ALMA DE GUERREIRO
Ele entendia que o sistema de cotas raciais viera para corrigir um erro histórico. Pois não é novidade para ninguém, que milhares de pessoas foram escravizadas no Brasil; índios e negros, oficialmente, fora o que fora oficiosamente; pois nenhum abuso acaba da noite para o dia; de 1530 à 1888: ou seja, por 358 anos. Quando o Supremo Tribunal Federal (STF), através de seus ministros, votou pela constitucionalidade das cotas para estudantes de escolas públicas de baixa renda, pretos, pardos e índios, em universidades públicas (Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012), reservando 50% das vagas em todas as instituições federais ligadas ao MEC; em cada vestibular: abriu espaço para que através do acesso ao ensino superior, caminhemos para uma sociedade que garanta oportunidade para todos. Porque quando se abriu a porta das senzalas, não se pensou numa “compensação” financeira para àqueles que pagaram com suas vidas, para que a nossa sociedade, crescesse e se desenvolvesse. Sociedade riquíssima, diga-se de passagem.
Para início de conversa, toda escravidão é imoral. Ainda mais em uma sociedade hipócrita, que chama negro de ‘moreninho’, e que é incapaz de olhar para o outro, sem enxergar o ranço da senzala; quilombo; favela. O que se tem que entender, é que o afrodescendente; que no Brasil deveria se chamar ‘escravo-descente’, não teve as mesmas oportunidades que o europeu, que veio fazer fortuna no Brasil, teve. Até porque o africano que para cá foi traficado, não teve como decidir o seu próprio destino: coisa que é garantida em qualquer constituição que seja feita por pessoas com um mínimo de vergonha na cara. Quando se pensa um país, a ideia é que ele ofereça direitos iguais para todos. Mas, quando esse país, é dotado de indivíduos racistas-preconceituosos, que durante séculos trataram o seu igual como se diferente fosse, então há de se ter uma Lei que garanta direitos ‘diferenciados’ por um tempo, — beneficiando àqueles que foram usados e assassinados para deleite de meia dúzia de loucos, que só porque tinham dinheiro e poder, se acharam no direito de matar, sequestrar, estuprar e humilhar o trabalhador. Sim, o negro neste país é acima de tudo um TRA-BA-LHA-DOR. Veio para cá como escravo, trouxe a sua cultura e o seu conhecimento, foi tratado como lixo durante muitos e muitos anos, e confundido com objeto descartável sem condição de sobrevida; ao ser “libertado”, ou melhor, ‘despejado’, teve que conviver com a miséria, a fome, o escárnio e o abandono, de uma sociedade que nunca fez nada por ele. Então, senhoras e senhores, há de se corrigir hoje a lambança, de ontem e de anteontem, com o rigor da Lei. Ninguém aqui está fazendo nenhum favor ao escravo-descendente. E ninguém será prejudicado com tal medida, como muitos pensam. Nem se os cofres públicos tivessem que indenizar cada descendente de escravo, pelos abusos sofridos no passado, seria injustiça. Se o país não é ético, então que todos paguem pelos erros de seus governantes, que pensaram pequeno, visaram o lucro imediato, usaram e abusaram do ser humano; que como eles sente dor, sofre, chora, tem dor de barriga: sonha com um futuro melhor e só quer ser feliz. Então não se sintam ameaçados. O que se pede é justiça social. Ninguém é mais inteligente só porque é branco ou só porque é preto. E com esse decreto, ninguém ficará mais branco e ninguém ficará mais preto. Mas todos poderão competir em pé de igualdade.
É logico que o sistema de cotas raciais não será eterno. A ideia proposta pela ONU é que, a partir do momento em que vivermos em uma sociedade que proporcione possibilidades reais de igualdade, o sistema de cotas raciais termine, e sigamos a nossa caminhada, sabendo que todos têm a capacidade de disputar por uma vaga no mercado de trabalho, sem o abismo socioeconômico que se nos apresenta. O que não pode é o escravo-descente, que não tem culpa de ter nascido em um país de brancos racistas-preconceituosos; salvo raríssimas exceções, já que por estas praias o racismo é velado; ser obrigado a viver na pobreza extrema: na favela, no gueto, no lixão; no submundo da humanidade. Portanto, como dissemos no começo; ele entendia que o sistema de cotas raciais viera para corrigir um erro histórico. E quem for contra, que se rasgue todo: dos pés à cabeça. Pois terá que engolir o ‘sapo’, porque o mesmo agora é Lei.
Para mim o muro é muito mais alto. Mas graças à ONU, e ao Supremo Tribunal Federal, agora eu posso subir. Tenho fé em Deus que chegará o dia, em que o muro será nivelado, ao rés-do-chão.
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