AS ÁRVORES



Capadócia:

Quando ouviu Carl Gustav Jung dizer que “o que não enfrentamos em nós mesmos encontraremos como destino”, — parou, pensou, e olhou profundamente o horizonte, — como quem olha o espelho d’água. Minutos depois, esbarrou em Jacques Lacan, que sussurrava: “Sintomas, aqueles que você acha que conhece, parecem irracionais pois você presta atenção neles de uma forma isolada, e você quer interpretá-los diretamente”. Caminhando um pouco mais, eis que Sigmund Freud pegando-o pelo braço, declara: “A ciência moderna ainda não produziu um medicamento tranquilizador tão eficaz como o são umas poucas palavras boas”. Wilhelm Reich concordou e acrescentou: “A vida brota a partir de milhares de fontes vibrantes, entrega-se a todos que a agarram, recusa-se a ser expressa em frases tediosas, aceita apenas ações transparentes, palavras verdadeiras e o prazer do amor”. Neste instante, Carl Gustav Jung, que foi quem iniciou a conversa, rompeu o próprio silêncio e sentenciou: “O homem que não atravessa o inferno de suas paixões também não as supera. Elas se mudam para a casa vizinha e poderão atear o fogo que atingirá sua casa sem que ele perceba. Se abandonarmos, deixarmos de lado, e de algum modo esquecermo-nos excessivamente de algo, corremos o risco de vê-lo reaparecer com uma violência redobrada”. Mais não parou por aí. Já que estava com a palavra, senhor absoluto da retórica, completou: “O homem que apenas crê e não procura refletir, esquece-se de que é alguém constantemente exposto à dúvida, seu mais íntimo inimigo, pois onde a fé domina, ali também a dúvida está sempre à espreita. Para o homem que pensa, porém, a dúvida é sempre bem recebida, pois ela lhe serve de preciosíssimo degrau para um conhecimento mais perfeito e mais seguro”. Sigmund Freud não deixou por menos, e entre abraços e beijos, suspirou: “Como fica forte uma pessoa quando está segura de ser amada!”. E como ninguém ali estava brincando, confessou: “Nós poderíamos ser muito melhores se não quiséssemos ser tão bons”. E virando-se para o espelho d’água, balbuciou: “Se eu pudesse te dizer aquilo que nunca te direi, tu poderias entender aquilo que nem eu sei”. Ao ouvir Sigmund Freud dizer que “O homem é dono do que cala e escravo do que fala” e “Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo”, — ele que não disse uma só palavra, fechou os olhos e dormiu. 

Era o amor batendo-lhe à porta.



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