ODARA




Ela tinha a delicadeza de uma flor no momento da morte. Uma solidão que só quem morre sente. Ela tinha as mãos dormentes e o pés frios. Quando chorava, deitava água para fora da bacia, como quem brota uma cachoeira. Ela era sofrida, mas amável. Era sincera, mas gentil. Era calada, mas falava entre os vãos de suas pernas. 

Acho que em algum momento foi feliz. Deve até ter sorrido por um breve instante. Talvez lá pelos tempos de criança, onde todo mundo é rico, por mais pobre que seja. A infância é o momento em que almejamos alguma coisa na vida. Mesmo que seja um pirulito de morango. Mesmo que seja uma cumbuca de açaí. E com ela não deve ter sido diferente. Contudo não sei dizer se é verdade. Entretanto alguma coisa me diz que sim. Ela deve até ter dado gargalhada, quando descobriu que o mundo, não é nenhum mar de rosas. Ela deve ter dito para si mesma: “Está vendo eu avisei. Avisei que você iria sofrer novamente. Avisei que iríamos sofrer juntas feito alma e corpo. Eu avisei... bem que avisei. Mas você não quis me ouvir. Quis vir logo para Terra. Afoita do jeito que é, pegou qualquer corpo, e deu no que deu. Agora não fala. Não anda. Agora vai ter que aguentar”.    


Ela era delicada como um grão de nada. Pena ter sido tão absurda. Pena nunca ter sabido onde estava.


Ela foi embora. Mas não tenho raiva dela, não. Não me deu nada. Também nada me tirou.


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