TAKING OVER ME
Ela estava mais para Lobo Mau do que para Chapeuzinho Vermelho. Dizia ter inventado o Elixir da Eterna Juventude. Vivia tomando um negócio verde, de aspecto viscoso, com gosto de espinafre. Por isso intitulava-se uma adolescente da terceira idade. Tinha o rosto de vovozinha de Conto de Fadas, embora fosse plastificada da sola dos pés à ponta dos cabelos. Fora vítima de erro médico. “Plástica mal feita”, – dizia. Graças a isso, comportava-se feito uma atriz de filme adulto: àquele que a gente não assiste com medo de esquecer tudo que aprendeu, ou pior, descobrir que não sabe nada. Ela era, digamos, uma velhinha descolada. Todavia, recusava-se a envelhecer. Ser jovem para sempre era a sua meta. Para tal, vestia-se como se tivesse quinze anos de idade. E o que mais chamava atenção eram aquelas botas de plástico à altura dos joelhos, que ela não tirava dos pés. E para complicar, as botas eram brancas! Como ela não passava de um metro e meio de altura, parecia um gnomo com a perna engessada. Somado a isso, estava uns vinte quilos e dois gramas acima do peso. O que dava-lhe o aspecto de ser mais rotunda do que era. Mas era feliz assim. Tinha orgulho de ter dobrado o Cabo da Boa Esperança e ainda estar de pé para contar história.
Com o intuito de buscar uma aparência mais feminina, o que não precisava, já que era formosa como um buquê de rosa, resolveu colocar silicone. Mas como era dada ao exagero em escala macroscópica, colocou a maior prótese do mercado. Resultado, ficou parecendo um abajur pendendo para frente. Os seios eram tão grandes que chegavam duas horas antes dela. Para ser sincero, ela ficava escondida atrás daqueles airbags gigantes. A impressão que dava era que se ela caísse no chão com a parte da frente do corpo, ia sair quicando até chegar ao Japão. E olha que ela vivia numa cidadezinha bem longe da Ásia, entre o nada e lugar nenhum. Mas mesmo assim, se caísse no chão, rolaria ribanceira à baixo, e não pararia, até chegar em Tóquio. Os seios eram bonitos, sim. Ninguém aqui está falando mal deles. Muito pelo contrário. Trata-se apenas de catarse e perplexidade elevados ao cubo. Contudo, eles (os seios) eram superlativos demais para uma mulher de meia idade e meia, mais uma inteira, dois M&M’s, quatro chicletes e um combo grande e outro pequeno (pipoca + refrigerante), ostentar. Ela era uma sessão de cinema com tudo que tem direito! Pagando meia entrada, com carteirinha de estudante, “porque velha é a mãe!”, é claro.
Já estava perto dos cem anos. Entretanto, lá ia ela, firme e forte, arrastando-se pelo mundo. Usava mini-saia, mini-blusa, mini-short, mini-tudo. Ela mais parecia uma nano-pessoa vestindo nano-coisas. Uma mulher microscópica, que comportava-se como menor de idade, embora fosse gente grande de verdade. Ela era assim. Sim, minha esposa era assim. Digo era, porque acabou de morrer, pobrezinha. Amanhã ia completar cem anos de vida. Cem primaveras, cem verões, cem carnavais, cem quilos, cem velinhas. Sem noção. Minha mulher se foi, coitadinha. Vai fazer uma falta danada. Mas logo nos encontraremos no céu.
Ao contrário do Romeu, eu encontrei a minha Julieta, e casei-me com ela. Embora ela estivesse mais para Olívia Palito, duzentos quilos mais gorda, e eu para Popeye, dez quilos mais magro. Contudo, o nosso amor foi eterno, enquanto durou.
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