NAS ASAS DO SENHOR
Homenagem a Dom Eugênio Sales(1920-2012)
Dom Eugênio Sales é uma pessoa formidável. Poderíamos dizer, “foi”, já que é um espírito desencarnado; contudo, se é um Espírito (como todos nós também o somos), continua vivo onde quer que esteja. Acima de tudo, Dom Eugênio é uma pessoa, uma criatura de Deus, um indivíduo-plural. E como bem sabemos, pessoas não morrem. O espírito humano sobrevive à matéria, e vai para algum lugar; que alguns chamam de céu, Pátria Espiritual, erraticidade. É isso! Dom Eugênio é um espírito errante que voltou para uma das muitas moradas da Casa do Pai.
Seguindo o apostolado do Cristo, tornou-se de fato um apóstolo. Alguém que dedicou-se ao semelhante, um trabalhador da última hora; que foi fiel aos princípios de sua Igreja, que viveu até o derradeiro sopro de vida em nome daquilo que acreditava. Aqui valeria ressaltar um décimo de tudo que ele fez: co-criou a Campanha da Fraternidade e as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), ordenou cento e sessenta e nove sacerdotes, implantou o Diaconato Permanente, defendeu a ortodoxia católica, combateu a esquerda dentro de sua Igreja, a Teologia da Libertação, apoiou e abrigou mais de quatro mil refugiados políticos no Rio de Janeiro, nos anos de 1976 a 1982, durante a ditadura militar no Brasil e na América do Sul, ajudou a criar os primeiros sindicatos rurais no Rio Grande do Norte, foi chamado de ‘conservador’ e de ‘bispo vermelho’, ocupou diversos cargos no Vaticano, inaugurou em 1979 a Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro, criou a Pastoral do Menor, a Pastoral Carcerária e a Pastoral das Favelas, foi arcebispo do Rio por trinta anos, criou centros de atendimento a portadores de HIV, entre outras ações sociais e humanitárias; como a promoção da educação, da evangelização, e o apoio aos mais pobres, incentivando a gestão de políticas públicas de geração de emprego, trabalho e renda.
O cardeal mais antigo da Igreja Católica, aquele que aos trinta e três anos de vida, e onze de sacerdócio, foi ordenado bispo em 1954, tornou-se arcebispo de Salvador em 1968, e arcebispo do Rio de Janeiro em 1971, dedicando sessenta e sete anos de sua vida à Igreja, dispensa títulos. O arcebispo emérito do Rio de Janeiro é o tipo de pessoa que sabe que aquele que é não faz alarde do que é. Por isso fez do silêncio o seu bem mais precioso. Pois quem é não precisa dizer que é, porque não tem que provar nada a ninguém.
Li em algum lugar que quando Chico Xavier desencarnou, foi recebido no céu pelo próprio Cristo. De certo, o mesmo se deu, com Dom Eugênio Sales. Aquele que pelos católicos é chamado de “Filho de Deus”, e pelos espíritas é conhecido como “Governador da Terra”, e que por pura humildade, reconhecia-se como “Filho do Homem”, certamente programou-se para estar de braços abertos na porta do céu, quando Dom Eugênio chegasse. Deve ser por isso que quando o corpo do cardeal chegou para ser velado, na Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro, desde o início do ato solene, ao soltarem uma pomba branca em homenagem a Dom Eugênio, a ave que é considerada pelos católicos como a manifestação do Espírito Santo, pousou sobre o esquife, e lá permaneceu por mais de quarenta minutos, como se fosse enviada pelo próprio Deus, para guiá-lo de volta para casa. É uma licença poética. E como tal, simboliza a presença do Criador na vida de todos nós.
Pensando na Obra de Deus e observando o Evangelho do Cristo, chego à conclusão de que todos nós nascemos com potencial para a santidade. Vou mais longe até: acredito que cada um de nós, a seu tempo, será santo um dia. Depois Anjo. Depois eternidade. Somos todos infinitos, porque como já dissemos: o espírito não morre. O que talvez nos falte ainda, e isso passa pelo livre-arbítrio, é enxergarmos a Luz dentro de nós. Aí se dá a mudança interior. Ainda estamos na fase da busca pela reforma íntima. Mas chegará o dia em que ultrapassaremos as nossas próprias barreiras, e descobriremos que enxergar o outro como nossa imagem e semelhança, é também enxergar a Deus, aos animais, ao universo e a natureza como um todo, como parte de nós. D’onde se conclui que podem nos dividir em mil pedaços, que mesmo fragmentados, ainda seremos cem por cento filhos de Deus. Porque o Criador está inteiro em nós: em sua totalidade em nós. Seja em nossas menores ou maiores partes: Tudo é Deus.
Dom Eugênio Sales foi, e é, um desses homens que percebeu isso. Digo foi: enquanto indivíduo de carne e osso. E digo é: enquanto espírito imortal. Talvez ele seja a prova de que a nossa missão não termina e nem começa na Terra. Talvez ele, como todos nós, seja uma semente plantada no deserto. Quando decidimos desabrochar, não há sol ou tempestade, que nos impeça de nos transformarmos no mais belo cravo. E como bem sabemos, em se tratando da matéria, a única coisa permanente no universo é a mudança: nem todo deserto dura para sempre, porque um dia o sertão tornar-se-á mar e o mar virar-se-á sertão.
Pessoas como Dom Eugênio Sales, Mahatma Gandhi, Buda, Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce, Dalai Lama, Francisco de Assis, Papa João Paulo II, Agostinho de Hipona, Leonardo Da Vinci, Wolfgang Amadeus Mozart, Dr. Bezerra de Menezes, Martin Luther King, Sócrates, São Francisco de Paula, Santa Mônica, Francisco Cândido Xavier, D. Pedro II, seu Zé Ninguém e dona Maria sem sobrenome, são maiores do que qualquer religião. Pessoas assim vêm à Terra com uma missão sagrada. São verdadeiramente santos no sentido amplo e irrestrito do Ser. É a mão de Deus trabalhando junto às suas formiguinhas.
Deus te abençoe, Dom.
A ti e a teu dom.
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