TUG OF WAR




Ele gostava de carinho. Celular carinho, vinho carinho, apartamento carinho, computador carinho, carro carinho, cordão carinho, hotel carinho. Muito carinho. Sei que a piada é infame. Mas é isso mesmo. Ele gostava de tudo carinho. Relógio, só se fosse Rolex. E como bem sabemos, Rolex não é baratinho. Roupa, só usava de grife. Sapatos, só os italianos ou em Cromo Alemão. Comprava de tudo que via no shopping. Era o cliente predileto das lojas. No restaurante, dava gorjetas altíssimas. Era cem dólares para um, cinquenta euros para outro: um desperdício de dinheiro! Era um caçador de tendência. Conhecido como “Cool Hunter das Estrelas”, tudo que tocava virava moda. Mas seu toque de Midas era só para gastar: o relógio era de ouro, mas ele esquecia-se que dinheiro não dá em árvore. Por isso usava o cartão de crédito como se fosse um brinquedo. Aquele pedaço de plástico na mão dele só faltava falar! Se queria viajar, passava o cartão. Se queria redecorar a casa: cartão. Se era Delicatessen: mais cartão. A cada mês a fatura vinha mais extensa. Em tamanho e valor! Ele dizia que não bastava ser chique. Tinha que parecer chique. Por este motivo ostentava o que tinha e o que não tinha. “Andar de ônibus?! Nem pensar! Metrô?! Um horror! A pé?! Deus me livre!”. O negócio dele era táxi, táxi, táxi. Como morava em Nova York, e o trânsito aqui é um caos, se estava com pressa, fretava um helicóptero. Se estava com muita pressa, alugava logo um jatinho. Ele achava-se o suprassumo da elegância. Já que conhecia todo mundo, que segundo ele, “valia a pena conhecer”( quatrocentões falidos da High Society decadente, empresários que sonegam impostos, políticos desonestos, celebridades de quinta, atores sem talento, cantores oportunistas, apresentadores hipócritas, alpinistas sociais e aspirantes a famosos), ele vivia como se um deles fosse. Se dava com todo mundo, é verdade. Afinal de contas, o negócio dele é carinho. Muito carinho! Era simpatissíssimo, queridíssimo, carinhosíssimo, invejadíssimo, super amadíssimo, superlativíssimo!

O tempo passou, e ele que era o tal melhor amigo dos ricos e famosos, acabou no ostracismo. Não era convidado para mais nada. Adeus festas regadas a puro malte escocês! Adeus primeira classe! Adeus Paris! Depois de muita penúria, finalmente caiu a ficha. Ele, que nunca foi nenhum “penny pincher”, começou a ter que economizar. Deixou a cobertura em West Village, trocou o táxi por skate, vendeu as roupas de grife e todo o resto, e passou a levar uma vida modesta em uma quitinete de fundos no Harlem. Para ele, a Ilha de Manhattan não era mais como antigamente. Não tinha o charme do Chelsea nem o glamour do Greenwich Village. Muito menos a beleza do Cobble Hill ou a tranquilidade do Brooklyn Heights, que ficam fora da Ilha, mas têm o seu charme. Enfim, ele que era tudo e não era nada, desprezou a família, não estudou, não se especializou, não criou vínculos afetivos com ninguém; acabou sozinho, com uma enorme dor de cabeça e muita conta para pagar.    

Conclusão:

When the penny has dropped, it was too late.
(Quando a ficha caiu, já era tarde demais).




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