EU VELEJAVA EM VOCÊ




Esperança é coisa que posso ter até o último suspiro. Aliás, esperança é algo que carrego até depois da morte. Porque esperança é aquilo que vem de dentro. A esperança me comove até nos meus ínfimos detalhes. Ela está entalhada em mim tanto quanto estou nela. Isso. A esperança é meu entalhe. E eu me entalho nela. Entalho-me até a raiz do pescoço. Entalho-me até o pó do osso. Meu tutano é cheio de poesia. Minha medula é só alegria. Eu sou a esperança guardada no corpo de um homem, que antes de ser mortal, posto que é corpo, é soberanamente infinito em sua essência. Sou um pássaro sem pouso certo. Sou a alma do deserto. Sou aquele que não precisa de nome, muito menos de sobrenome. 

Deve ser por isso que amo demais. A esperança me comove, me envolve, me faz explodir como fogos de artifício. Mas não tenho esperança de gente. Tenho esperança de bicho. Não quero casa própria nem dinheiro no banco. Não quero sapato nem sola de tamanco. Quero a natureza que vem da terra. Quero a brisa que vem do mar. Tenho ganas de nadar com Iemanjá. Meu desejo é um dia virar homem-peixe. Nadar: nadar no rio. Nadar no oceano-mar. Até no céu sonho pisar. A grama deve ser mais bela do lado de lá desta aquarela. A aquarela de Deus. A aquarela de Deus em nós.


Esperança é coisa que posso ter até o último suspiro. É a ela que me dirijo quando rezo por ti.


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