IDENTIDADE





Ela tinha mania de julgar as pessoas pela cor da pele. Dizia que quanto mais escura a pele fosse, mas duvidoso era o caráter. Menosprezava o mundo. Dizia que a mistura de raça era um desrespeito às leis da natureza. Ignorava que todos pertencemos a mesma raça: A humana. Torcia o nariz quando via um negro na rua. Quando observava um mulato caminhando pela calçada, bradava assustada: “Aquilo ali não é coisa de Deus, não”. “Aqui essa gente não entra! Aliás, aqui em casa só entra ‘gente de cor’, se for para lamber a sola dos meus sapatos. Essa gente se multiplica como ratos! Não é preconceito, não. É higiene”.   

Um dia essa mulher “muito higiênica” ficou doente. Foi parar numa cama de hospital. Quando soube que sofria de mal incurável, chorou. Quando foi desenganada pelos médicos, fez a Deus uma prece. Padeceu tanto que dava pena. A sua pele que era branca como flocos de neve: escureceu. Ficara com a cor tão carregada, que tornou-se retinta. Ficara mais preta que piche, diga-se de passagem. Mais preta que carvão mineral. Ficara tão parecida com betume espesso, que fora apelidada pelo pessoal do hospital de “A Mulher do Asfalto”. As crianças adoravam chamá-la de “petróleo”. Retinta, de um preto tão escuro, que para vê-la era necessário acender a luz. O marido quando ia visitá-la naquele leito manchado de alcatrão, mal a reconhecia. Os filhos se recusavam a chamá-la de mãe. Quando foi obrigado a visitá-la no hospital, o menorzinho, que devia ter uns três anos, cuspiu no rosto da mãe. O filho mais velho tacou-lhe uma pedra. E o do meio, com um galão de gasolina na mão, riscou um fósforo em sua direção. Quando ela começou a arder em chamas, todos ficaram olhando. Médicos, enfermeiros, pacientes, amigos, familiares, todos. Todos queriam vê-la queimar até carbonizar. Quando perguntaram ao filho do meio porque ele fez aquilo com a mãe, o menino respondeu: “Porque ela é negra”.   

Moral da história:

Filho de peixe, peixinho é.


                    
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