ACONTECEU NUMA MANHÃ DE DEZEMBRO




Hoje Deus bateu-me à porta com uma garrafa de vinho, e chamou-me para conversar. Aí, eu pensei: “Deus bebe?”. “Não”, – Ele respondeu. “Não bebo”. O vinho é sem álcool e a oração é diálogo. Fiquei encantado por Ele ler o meu pensamento. Pela primeira vez na vida, alguém adivinhava o que eu estava pensando. “É Deus, não é... Ele sabe de todas as coisas” – argumentei. Senti-me protegido. Ali estava meu melhor amigo. Aquele que sabia do passado e do futuro de mim, e que agora, era o meu presente. Fiquei feliz. Muito feliz. Deus perguntou-me se podia sentar-se. Eu disse que sim. Perguntou se eu estava bem. Permaneci em silêncio. Ele sabia que não. Mas fora generoso. Deixou-me ter a liberdade de guardar em mim os meus segredos. Se quisesse falar, falaria. Se quisesse o silêncio, silenciaria.

Depois de meia hora de conversa, abrimos o vinho. Ele era de uma safra rara. Tinha gosto de paz de espírito. Não sei explicar direito: só posso dizer que era bom. Deus deu-me alguns conselhos. Disse-me coisas que a tempos precisava escutrar. Não era um sermão. Era uma palavra amiga. Passou-me o filme dos meus dias: horas em ‘slow motion’, horas em ‘pause’, mostrando-me o quanto eu era bom, o que precisava mudar, o que merecia atenção, o que deveria esquecer, porquê deveria perdoar. No final da sessão ‘cinema-pipoca’, ele mostrou-me o meu livre arbítrio. Foi aí que percebi lá no fundo da tela: a presença do meu Anjo da Guarda. Ele estava em todas as cenas: do início ao fim. Todavia agia com tanta discrição, que não se fazia perceber. Só olhando com bastante atenção, avançando e voltando a cena, era que entre um móvel ou outro, entre uma lágrima ou outra, entre um brinde, um aperto de mão, um sorriso fraterno, um abraço apertado, um simples piscar de olhos ou num beijo, o querido amigo em forma de Luz, dava o ar de sua graça. Sempre me incentivando. Sempre me colocando para cima. Sempre dizendo coisas que na maioria das vezes eu não  queria ouvir, mas que eram necessárias para o meu crescimento moral. Atrás do Anjo, bem lá no fundo da alma do Anjo, entre meu espírito e o dele, aparecia a imagem de Deus. Foi aí que percebi que Deus cuidava dele e de mim. “Deus está em toda parte” – pensei. “Deus é gente como a gente”. Agora entendo o que quer dizer “à imagem e semelhança de Deus”. Agora sei que nos parecemos com Deus quando nos vemos em espírito. Deus é imaterial. Deus é uma força estranha. Deus é algo incompreensível, e ao mesmo tempo, similar a todas os outros. Está no sorriso da criança, está no choro de um idoso, está na dor, na alegria, está na noite e no dia, está no azar e na sorte, na vida e na morte, está em todo lugar.

O vinho acabou. Saímos para comprar mais, todavia o mercadinho estava fechado. Aí apareceu Jesus e transformou água em vinho. Fora mágico o encontro. Fora algo entre o gosto e o paladar. Ficamos ali por horas. Deus falava de filosofia. Jesus dissertava sobre teologia. Ambos eram de vanguarda. Ambos sabiam de tudo: enquanto eu aprendia um pouco de cada coisa. Falamos sobre culinária, sobre beleza, sobre vaidade, sobre sexo, sobre amor, sobre angústia, sobre medo, sobre moda, sobre felicidade, sobre parque de diversão, sobre flauta, sobre literatura, sobre artes plásticas, sobre terremotos e  tsunamis. Deus mostrou-me fotos que tirara no momento exato da criação do universo. Jesus mostrou-me um vídeo em que aprendia a caminhar sobre as águas. Percebi que com Eles podia falar de tudo. Afinal eles me conheciam mais do que eu a mim mesmo. Foi lindo. Foi encantador.

Adormeci logo que eles foram embora. Dormi tanto que acordei uns três dias depois. Ter recebido a visita de Deus mudou a minha vida. Tê-lo deixado entrar em meu coração me libertou das amarras de mim mesmo. Meu Anjo da Guarda e eu seguimos caminhando. Para onde, não sabemos. Mas temos a certeza que é com as bençãos de Deus. Já se passaram alguns dias desde o meu encontro com Deus. Contudo ainda sinto a sua presença dentro de mim. Às vezes procuro-o debaixo da cama. Às vezes vasculho os armários na esperança de esbarrar com ele em alguma gaveta. Mas hoje, especialmente hoje, tive a certeza que Ele está aqui: dentro de mim. Acordei com o coração tranquilo e a alma serena: como um final de tarde em Madagascar. Acordei feliz de novo. Como ontem, anteontem, como amanhã e depois de amanhã. Agora todos os dias são assim: cheios de Deus.

Graças a Deus.  





         
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