INVEJA
Ele desejava ter o que o outro tem. Tinha uma aversão ao universo alheio: ofuscado pelo brilho próprio de quem quer que fosse. Queria possuir a alma do outro: seus sonhos, suas conquistas, seus tesouros materiais, seus tesouros essenciais, sua inteligência, suas qualidades inerentes ao ser. Odiava ver alguém feliz. Se via um amigo comprar um carro: desejava dois. Se via um amigo vivendo um grande amor: parabenizáva-o primeiro e desejava a morte dele depois. Tinha o pensamento guiado pelo egocentrismo e pela soberba. No espelho quebrado da inveja, via-se maior e melhor que todos, não podendo suportar que outrem fosse melhor que ele. Disputava poder, riqueza, consumo e status, até com a própria sombra. Dizia-se infinitamente prejudicado pelo destino: que é um mecanismo de defesa do fraco contra o mais forte. Queria ter o olho azul do outro. O cabelo liso do outro. A roupa de grife do outro. Queria ter o corpo sarado do outro. O casamento feliz do outro. A cor dourada da pele do outro. Queria paz: mas só doava guerra. Queria amor: mas só tinha ódio. Queria sinônimo: mas era todo antônimo. Vivia o ranso da vontade frustrada de possuir: os atributos ou qualidades de um outro ser. Desejava tais virtudes, mesmo sendo incapaz de alcançá-las, seja por incompetência ou limitação moral, seja por uma total falta de humildade.
Ontem esbarrei com ele no coffee break. Disse-me que meu Rolex brilhava mais que a luz do sol. Não demorou muito: o relógio parou. Não demorou muito e me dei conta que não queria alguém assim na minha vida. Não demorou muito e ele me matou.
INVEJA™ © copyright by betto barquinn 2011
TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY BETTO BARQUINN
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Fiquei com inveja! Gostaria de escrever tão bem assim! hahahahahahaha! Deus abençoe, Betto. Abs!
ResponderExcluirUm escritor como você merece ser aplaudido de pé. Adorei esse seu "Inveja". Genial, Betto! Abração!
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