I TRY

Ela dizia que o amor é a chave que abre todas as portas. A exemplo do Cristo: fazia o bem sem olhar a quem. Tinha o dom de estar no lugar certo; na hora certa. Exercia o domínio sobre o outro no melhor sentido da palavra. Aprendera a ver as qualidades do ser humano. Nunca enxergava defeitos. Utilizava a caridade para melhorar a vida de todos. Tinha o coração do tamanho do mundo. Amava a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesma. Tinha vivido muita dor. Mas descobrira o amor. Por isso nunca perdera a esperança.

Pandora era assim: um doce. Na mitologia grega fora a primeira mulher criada por Hefesto: deus do fogo, dos metais e da metalurgia. Surgira como punição à Prometeu, por ter roubado o fogo sagrado do Olimpo, e tê-lo dado aos homens. Fora co-criada por Atena: deusa da guerra, da civilização, da sabedoria, da arte, da justiça e da habilidade. Recebera dos outros deuses, sob permissão de Zeus, todas as qualidades divinas. E recebera de Hermes: a traição e a mentira. Prometeu sem saber o que fazer com uma mulher pródiga de qualidades e defeitos, a enviou para Epimeteu, seu irmão, que foi advertido a não deixá-la receber nenhum outro regalo dos deuses. Encantado com tamanha beleza, Epimeteu casa-se com Pandora. Na noite de núpcias, o esposo conta-lhe um segredo: tinha em seu poder uma jarra que no seu interior guardava todos os males do universo. Pandora tomada de curiosidade, abre a jarra, deixando escapar todas as mazelas da humanidade. Desesperada, tenta fechá-la, mas deixa as calamidades escaparem: conservando apenas uma gota de esperança. Como era uma mulher que sabia que o amor é a chave que abre todas as portas, Pandora morre, renasce, vive, morre novamente, renasce de novo, e progride sempre. Porque sabe que o bem é eterno e a esperança é o que nos move rumo ao infinito.

Quando perguntavam-na se era perfeita, ela respondia:

– Não. Mas eu tento.
     

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