BOM TEMPO PARA PATOS
Ele tinha um jeito louco
de andar pelas calçadas da vida. E isso, vez por outra, causava um certo
embaraço. Ontem mesmo, cruzando a rua do Ouvidor, percebeu que ali, entre
transeuntes desavisados e carros disparados; em uma esquina intervalada pelo nada e coisa alguma, pousara descansado: um pato. Pensou em
seguir a vida como de costume, passo a passo, mas decidiu ficar ali
mesmo; encostado a um poste, e se dar esse presente. Digo presente, porque ter
o bom-senso de parar, quando todos parecem apressados demais para dar algum
sentido à própria vida, parar tem o seu valor. Era como se dissesse ao
tempo: Chega! Era como se dissesse a si mesmo: Eu mereço! Quando
despertou de seus inúmeros pensamentos, ele que achava que sabia tudo;
observava o pato, e por este, era observado. Naquele instante em
que os olhos se encontraram, na vida dos dois algo mudou. Os gomos entrecortaram-se, e depois voltaram-se um para dentro do outro, como num abraço.
O que um pato fazia ali parado num lugar tão inóspito para patos? Não quis
responder. Esse é o tipo de pergunta que vale mais por si mesma do que pelo sabor
da resposta. Deve ter ficado ali, não mais que cinco minutos, admirando o
pato, — que olhava-o de volta, — admirado também.
Posto isso, saiu andando pela rua sem olhar para trás. Não quis saber se mais
alguém tinha visto o pato. Não quis dividir o seu segredo com ninguém. Porque
pela primeira vez alguém o tinha olhado nos olhos com tanta verdade, — que em se tratando de um pato, se contasse
a alguém, — pareceria louco.
É verdade… Ele
andava rápido demais para um moço de sua idade. Compreendia as entrelinhas da
vida com a rapidez de um relâmpago. Hoje, pensando nele e no pato, chego à
conclusão que ambos pararam ali; na esquina da Primeiro de Março com a rua do
Ouvidor, porque essa foi a forma que encontraram para provar a si mesmos que
estavam vivos. O segredo é tratar cada um como se fosse único. A decisão que não é nada fácil. Por isso acaba ficando para o dia seguinte.
Eles que acharam o
patinho feio, não perceberam que se tratava do mais belo cisne que a
natureza criou.
CONTACT CARLOS ALBERTO PEREIRA DOS SANTOS:
BOM TEMPO PARA
PATOS™ ©
copyright by
Carlos Alberto Pereira dos Santos 2011
TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY CARLOS ALBERTO PEREIRA DOS SANTOS
TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY CARLOS ALBERTO PEREIRA DOS SANTOS
Você é um amor, Betto. Adorei!
ResponderExcluirQue bonitinho, Betto! Você é uma delícia, querido. Bjs!
ResponderExcluirMuito profundo, Betto. Cara, demais! Abs!
ResponderExcluirGenial, Betto! Quanto mais você escreve, mais me surpreende. Não existe um só dia que eu não leia um texto seu. Abração, meu Rei!
ResponderExcluirMuito bom, Betto! Felicidades, meu Rei! Abs!
ResponderExcluirPois é, foi nessa esquina que eu já fiquei com cara de pato :/ Mas ler o texto superou essa lembrança :D Adorei.
ResponderExcluirshow... é interessante notar como é cada vez maior a velocidade da vida, e como nos reconhecemos cada vez menos nela... cinco minutos de contemplação nos aproximam mais de nós mesmos...
ResponderExcluirQue coisa linda, Betto! Deus te conserve assim: Maravilhoso! Amo muito você, Betto. Bjs!
ResponderExcluir“Bom Tempo Para Patos” é uma preciosidade, Betto. Aqui você consegue de forma impecável, dizer em poucas palavras, o melhor da vida. O seu texto é indiscutivelmente uma obra de Arte. Meus parabéns!
ResponderExcluirMaravilhoso, Betto!!! Amei!!!
ResponderExcluir