AS MARIPOSAS

Ela amanheceu com uma fome de engolir o mundo. Uma fome tão profunda, que dava para ouvir o ronco do seu estômago na lua. Mas decidiu ficar ali mesmo na cama. E não comeu nada. Porque o mundo cheirava a mau gosto. A vida tinha gosto de nada. Tinha olhos para ver e ouvidos para ouvir. Mas não via nem ouvia nada. Acordara seca. Acordara oca. Tinha um zumbido chato no ouvido e uma cãimbra na mão. Vontade de falar, não tinha. Desejo de ouvir, nem pensar. Era tudo tão chato, tão igual, tão comum, tão de anteontem, que o melhor era ficar quieta no seu canto. E foi o que aconteceu.

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