DON’T WORRY, BE HAPPY
Ela descobriu na literatura a força para
viver. Ver as palavras escorrendo delicadamente no papel, dava-lhe aquele
sentimento profundo, de fazer parte de alguma coisa boa. Quando deu-se conta de
si, não entendeu o mundo que vivia. Desde semente tinha uma necessidade
profunda de desvendar o lado oculto das coisas. Queria saber mais. Viver mais.
Amar em demasia. Queria poesia. E a saída foi arrumar letras no papel. Escrevia
sobre tudo: morte, azar e sorte, pano, pão, lamento e solidão. Às vezes passava
às tardes amarrotada num canto, enchendo de palavras: cadernos. Usava à máquina
ao invés do computador. Usava sobras de papel. Escrevia em papelão, em papel de
pão, em encarte de supermercado, em papel de parede e em rótulo de
refrigerante. ‘Se era papel, era bom’ — dizia. Escrevendo conheceu Arneburg.
Escrevendo conheceu Hrodna. Escrevendo conheceu muito mais: Foi à Gagarin,
Yamagata, Cahors, Ílhavo, Midden-Drenthe, Quinghuangdao, Kanpur, Iráklio e
Cabinda. Foi a tantos lugares, provou tantas pessoas, — que depois de anos, —
começava a entender alguma coisa. Agora sabia que todos sentem dor. Que uns
vivem e morrem sem amor. Que a vida é bela, mas só para quem toma conta dela.
Que o céu é azul, que o mar é ‘blue’, que o mato é verde, que a flor tem cor,
que o negro é negro, que o branco é branco, mas quando se coloca o branco no
preto e o preto no branco: a vida torna-se mais colorida. Descobriu que
preconceito é feio. E que racismo é algo sem pé nem cabeça. Descobrindo coisas,
foi juntando palavrinhas, palavrões e palavrotas. Escreveu sobre o mundo, sobre
o ato de ser vagabundo, sobre ração para gato e sobre borracha em sola de
sapato. O que ela escrevia não era crônica, nem novela, nem conto, nem
pensamento, nem anotação. Não era sonho nem pesadelo. Não era esperança nem
desespero. Não era companhia nem solidão. Era fruto do inclassificável, do
imponderável, do inenarrável: pão nosso de cada dia. ‘Por isso viver é tão importante.
Por que nada é mais importante. Aconteça o que acontecer: não se preocupe, seja
feliz’ — pensou.
Assim foi a vida da flor, que nasceu semente,
virou gente, ficou doente, abriu a boca e morreu.
DON’T WORRY, BE HAPPY™ © copyright by Carlos Alberto Pereira dos Santos 2011
TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY CARLOS ALBERTO PEREIRA DOS SANTOS
Os seus textos abrem uma janela para o gosto pela leitura. Muita gente não gosta de ler porque não conhece textos legais como os seus. Maneiríssimo saber que você disponibiliza gratuitamente uma Obra tão cheia de vida. Você merece ganhar uma estátua em praça pública, meu Rei. Vida Longa, caríssimo! Abraços!
ResponderExcluirSeu texto encanta por vários motivos: O leitor vê o seu talento em cada frase, você sabe envolver o seu público, artisticamente é um gênio, suas ideias são ótimas, muito bacana mesmo. Fico até sem palavras ao ver alguém tão bom no que faz. Talento é isso: é para poucos. E talento você tem de montão. Sucesso, cara. Sucesso!
ResponderExcluirMãe, eu quero um Betto Barquinn pra mim! kkkkkkkkkkkkk! Amo os seus textos, gatão! Bjs!
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