TEMPOS MODERNOS

Ele é do tempo que ‘homem com homem virava lobisomem’ e ‘mulher com mulher virava jacaré’. “Mas agora não é mais assim, não” – pensou. “Hoje em dia homem com homem e mulher com mulher vira casamento”. Desconhecia esse “novo mundo”, onde pessoas do mesmo sexo, simplesmente amam-se. Era incapaz de compreender que o amor chega quando a gente menos espera. Pode estar do outro lado do balcão, com o peito cabeludo, tomando cerveja. Ou de calcinha e sutiã: sentado no banco da praça. Esquecera-se que se Francisco ama João e Ana ama Maria, então que sejam felizes até que a morte os separe. Ser feliz para sempre é uma questão de opção. Isso mesmo: Opta-se por ser feliz. E pouco importa se o vizinho dorme com outro homem e a vizinha idem: mesmo que o “idem” dela seja outra mulher. As pessoas perdem muito tempo julgando. Eu quero é que todos sejam felizes. Não vou ficar julgando ninguém, enquanto a minha sopa esfria. Quero empanturrar-me desse caldo delicioso que é a vida. E de sobremesa: uma rodada de felicidade para todos! O amor é a cereja do nosso bolo. Ninguém têm a obrigação de viver só porque vê o outro viver. Pois todo mundo têm direito à felicidade. Então, está esperando o quê? Corra, Lola! Corra! Vá e agarre a sua felicidade agora. Mesmo que seja pelo pé! É assim que eu penso. Mas ele não pensa como eu. Outro dia ficou horrorizado, quando viu dois homens beijando-se no shopping. “Se eu tivesse uma pedra na mão, jogaria nesses ‘pervertidos!’”. “Como pode uns ‘transviados’ desses, afrontarem à família assim. Onde fica a moral e os bons costumes? Que falta de compostura! Somos cidadãos honestos! Pagamos impostos! Não somos obrigados a ver essa pouca vergonha!” – vociferou. O que ele não percebe é que eles também são cidadãos. Gay também paga imposto, sabia? E, certamente, os dois têm pais e mães que os amam, independente de sua orientação sexual. Família é aquela que apoia. Que compreende que o outro é capaz de tomar as suas próprias decisões. E nesse caso, como em todos os outros, o respeito vêm em primeiro lugar. Não senti-me desrespeitado por ver dois homenzarrões aos beijos no shopping. Se querem beijar-se que beijem-se. A vida é muito cheia de altos e baixos, para eu perder o meu tempo, incomodando-me com a felicidade dos outros. Uma pessoa têm que ser muito infeliz para chegar ao ponto de impor a sua opinião à bofetadas. Mas ele, sempre ele, incomodando-se. Hoje mesmo, estava eu quieto no meu canto, e veio ele com esse papo careta de ser contra a união homoafetiva. E eu disse: Caro amigo, pondere. A lei não regula sentimentos. Apenas reconhece que duas pessoas que amam-se, pública, contínua e duradoura, merecem ter seu direito reconhecido. Você precisa rever os seus conceitos. O mundo mudou, as pessoas mudaram, a sociedade mudou. Acontece que hoje em dia as pessoas não querem mais o gueto. Ninguém é feliz escondendo-se de si mesmo. Quem decidiu ‘sair do armário’, deixou a porta escancarada! Para que os outros, menos corajosos, fizessem o mesmo. E tem mais: Se uma pessoa descobre na outra, o referencial de sua vida, que viva! Se uma mulher ama outra mulher, que Deus a abençoe. Pois o meu Deus não pune ninguém. O meu Deus, que é soberanamente justo e bom, sabe o que se passa no coração de cada um dos seus filhos. E se é amor, meu caro, Deus abençoa e ainda manda um presente. Aliás, sabe aquele primo que eu tenho, que vem visitar-me todas as noites? Pois é... Ele é meu namorado. Isso mesmo: Na-mo-ra-do! E isso aqui, nas minhas mãos, é o nosso convite de casamento. Será semana que vem, no salão de festas aqui do prédio. Você está regiamente convidado. A lista de presentes encontra-se no quadro de aviso: lá na portaria. Precisamos de pouca coisa, mas fazemos questão da sua presença. Antes de deixar o queixo cair no chão, feche a boca. Ah, quando sair, fecha a porta. Boa noite para você também.           

(Ele nada falou)

–Homem com homem vira lobisomem e mulher com mulher vira jacaré? Fala sério!

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