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Mostrando postagens de 2011

MEU ÉBANO

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É chato ser gostoso… Eu sei que Alcione canta “Meu Ébano” pensando em mim. A Marrom pensa em mim quando canta, sim. Ela canta pensando em mim, sim. Ela canta, sim. CONTACT BETTO BARQUINN: curtacontos@hotmail.com MEU ÉBANO™ © copyright by betto barquinn 2012 TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY BETTO BARQUINN  

NEW YEAR’S EVE

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Ele acordou animado. Era véspera de Ano Novo. Feliz, olhou para o espelho e disse: – Feliz Ano Novo! O espelho respondeu: – Não torra! CONTACT BETTO BARQUINN: curtacontos@hotmail.com NEW EAR’S EVE© copyright by betto barquinn 2011 TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY BETTO BARQUINN  

HAPPY NEW YEAR

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No meio dos festejos de Ano Novo, percebemos que o tempo corre tão rápido, que se não aproveitarmos cada segundo das nossas vidas para fazermos o bem, acabamos por nos sentir em dívida com o mundo. Há tanta coisa para fazer e tanta gente para ajudar, que ficar parado contando uma fortuna de alguns trocados, é pura perda de tempo. Quando a maturidade chega, percebemos que a única coisa que levamos desta vida, somos nós mesmos. E que a única coisa que sobra de nós mesmos é a alma. Somos espíritos imortais. Isto quer dizer que devemos deixar plantado no universo o nosso melhor. Porque os anos passam, mas o Verbo fica. Talvez o ano só mude para nos dar uma nova chance de estendermos a mão para o nosso semelhante. Como um diazinho de nada faz uma diferença enorme nas nossas vidas …  Um dia para viver e esquecer. Um dia que serve de rito de passagem. Um dia para ser lembrado. Um dia vivido, esperando o outro, a ser vivido também. Assim é o último dia do ano. Ele fica ali: esperando o Ano Nov

MARIA DA PENHA

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Ela sabia que um homem que bate em mulher, não merece ser amado. Até porque viver ao lado de um homem violento, não é sinal de amor, mas de desespero. Ela sabia que uma mulher merece ser tratada com respeito. Sabia que o amor passa longe de um tapa, de um soco, de um chingamento, de um empurrão. Sabia que a violência dói mais na alma do que no corpo. A violência machuca a mente, fere o espírito, macula o espírito, rasga o coração. Sabedora disso tudo, arrumou suas coisinhas, colocou-as numa mala, vestiu roupa de festa, maquiou-se, pintou os cabelos de vermelho, sorriu para o espelho, e foi embora. CONTACT BETTO BARQUINN: curtacontos@hotmail.com MARIA DA PENHA™ © copyright by betto barquinn 2011 TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY BETTO BARQUINN

MISS INDEPENDENT

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No Ano Novo, ela colocou palavras no forno para assar. Assou-as junto com as batatas. Assou-as com o pernil. Assou-as bem assadinhas. Ficaram tostadas: tostadinhas. Depois da ceia pronta, sentou-se à mesa e abriu uma garrafa de vinho. O jantar estava delicioso. Por isso comeu palavra por palavra até não mais aguentar. Era noite de Ano Novo. E a palavra que mais comera fora aquela que começava com A e terminava com MOR. Comera uma casa. Comera um lar. CONTACT BETTO BARQUINN: curtacontos@hotmail.com MISS INDEPENDENT© copyright by betto barquinn 2011 TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY BETTO BARQUINN

A HARD DAY’S NIGHT

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No meio do bloco, ela parou à minha frente e disse: – Que coisa bonita, menino. Que coisa bonita. Coisa bonita! Quanto a mim, nada respondi. CONTACT BETTO BARQUINN: curtacontos@hotmail.com A HARD DAY’S NIGHT ™ © copyright by betto barquinn 2011 TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY BETTO BARQUINN

I’M COMING OUT

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Ele era meio  “ pastelzinho ” , mas era muito legal. Ela chamava de  “ pastel ”  todo menino tímido. Pastel para ela era sinônimo de ‘nerd’. Ele era legal mesmo. Abria a porta do carro, comprava champagne para comemorar qualquer coisa, mandava rosas vermelhas nos dias frios e flores coloridas nos dias quentes. Ela apaixonou-se por ele assim que o viu. Sabia que atrás daqueles óculos remendados com esparadrapo, havia um grande homem. Um homem que seria o seu cobertor pelo resto da vida. Um homem que estaria ao seu lado quando desse à luz. Um homem que seguraria a sua mão nas horas de choro e ranger de dentes. Ficaram juntos tanto tempo, e envelheceram tão rápido, que quando perceberam: passavam dos duzentos anos. Ela tornou-se uma velhinha cheia de predicados: costurava, bordava, fazia bolos deliciosos, tocava piano, contava histórias, andava de skate, pichava o muro do vizinho. Ele, pastel que só, virou um famoso escritor. Agora viviam na lua: numa casinha pintada à mão. Tinham uma ho

BECAUSE OF YOU

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Ela acabara de ler “Odisseia”. A imagem de Homero ficara gravada em sua mente. Afinal, alguém capaz de escrever um poema assim, merecia todo o seu respeito. Ficara apaixonada por Ulisses. Masturbava-se pensando em Odisseu todos os dias. Sonhava com a Guerra de Troia, com mulheres, com criados e servos, com guerreiros, com Penélope, com Telêmaco, com os Mnesteres, com Atena, com Calipso, com Posídon, com Polifemo, com a praia de Esquéria, com os feácios, com Nausícaa, com Demódoco, com Eumeu, com Hades, e com todos os outros personagens do poema épico. Ela lera os 24 livros. Perdia-se entre montes de papéis. Adorava “Telemaquia”. Amava “Ciclopeia”. Era louca por “Nekyia.  Delirava com “Apologoi”. Perdia o sono com “Mnesterophonia”.  Era uma mulher perdida na Grécia Antiga. Uma mulher vivendo, dia a dia, a sua Ilíade. Uma mulher que gostava de viver no passado, mesmo sabendo que o passado não volta mais. Uma mulher cheirando a mofo, com o sorriso no rosto, e a alma na mão. Se fosse longe

ARRASTA A SANDÁLIA

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O samba estava animado. Tinha gente requebrando desde às seis da manhã. Beth levou a cerveja. Paulo levou a batida de maracujá. Eu levei a farofa de ovo, o pudim de limão, e o louro para botar no feijão. Todo mundo levou o que pôde de casa. Camila trouxe a pitanga. Maria trouxe o suco de manga. Ivete trouxe a picanha, a ervilha, a salada de abacate, o filé com fritas, o salmão, o arroz, o carpaccio e o caviar. Eram os chics e famosos, os ricos e poderosos: era a alta sociedade do morro. Para o nosso encontro, veio gente até da China. Era tanta animação que veio gente até do Japão. Todos juntos, misturados, sem frescura. Eu sambei até às cinco da manhã. Sambei tanto que perdi a alça do sutiã. Lá pelas tantas me deram um pandeiro, Martha chegou com o tantã, Renato pegou o cavaquinho, Jorge passou a mão no violão, Pedro agarrou o surdo, Carlos trouxe o tamborim, Vanessa chegou com a cuíca, e Margareth abocanhou o trompete. Todo mundo se aproximou, quem ia embora ficou, e lá fomos nós

SE VIRA

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De hoje em diante a coisa aqui em casa vai ser diferente. Não lavo mais a sua roupa, não cosinho para você, não prego nem mais um botão. As suas camisas de linho, se você quiser usar, vai ter que passar. Cansei de ser sua escrava. Cansei de viver com um homem que não manda bem nem na cama. Borracha fraca não se cria comigo, malandro! Ou você se mexe ou leva chifre. Agora é assim: mandou bem, tem chamego. Mandou mal: cai fora. A fila anda, malandro! Se quiser os meus carinhos vai ter que pegar outra senha. E corre porque a fila está virando a esquina. E tem mais: se levantar a mão para mim de novo, lhe aplico à “Maria da Penha”. Aí eu quero ver você bancar o macho no xadrez. ‘Se quiser tomar café: vai ter que fazer. Se quiser almoçar ou jantar: vai ter que cozinhar. O tempo do meu bem, meu amor, do iaiá, do ioió: acabou. CONTACT BETTO BARQUINN: curtacontos@hotmail.com SE VIRA™ © copyright by betto barquinn 2011 TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY BETTO BARQUINN

HABITAT

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Ele tinha um buraco negro na alma. Seu habitat era a solidão. Quase sempre estava isolado. Quando havia alguém ao seu lado, era confusão na certa. Ou era alguém cobrando ou era assombração. Eu nunca tive medo dele, não. Tinha pavor! Ele me assustava tanto, que eu sempre me urinava, quando ele passava por mim. Mas acho que ele não era tão mal assim. Entretanto os vizinhos falavam que sim. Diziam que ele era matador de aluguel. Mas como alguém pode trabalhar com a morte? Outros diziam que ele nunca tinha matado ninguém. Eu acho que era tudo mentira. Tudo que falavam era inventado. Mas o que entrou para a história, o que o fez ser lembrado na posteridade, era a fama de mal. Era um homem de caráter ingessado, capaz de tudo para conseguir o que queria. Mas não vou falar mal dele, não. Foi ele que ensinou-me a gostar de romance. Foi ele que deu-me “Grande Sertão Veredas”. Foi ele que apresentou-me Guimarães Rosa. Foi ele que inspirou-me a amar.       CONTACT BETTO BARQUINN: curtacontos@hotma

AS ROSAS NÃO FALAM

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Ela lavava o rosto com água de flor de laranjeira quando o telefone tocou. Era do centro de acolhimento para crianças e adolescentes. Do outro lado da linha, uma mulher de voz rouca, dizia: “Senhora, o seu filho chegou”. “Filho? Como assim? Que filho?” – ela perguntou. “O seu filho, senhora. O bebê que a senhora está esperando nasceu. É um menino. Pesa dois quilos e oitocentos gramas. A autoridade judiciária aprovou o seu cadastro. O representante da Vara da Infância e da Juventude está aqui, aguardado pela senhora”. “Ah, o bebê. Graças a Deus! Está tudo bem com ele?”. “Tudo na mais perfeita ordem, senhora. É um rapazinho forte e sorridente. Só tem um ‘probleminha’, senhora. Não sei se a senhora vai gostar”. “Mas qual é o problema, minha filha? Diga logo! Está me deixando nervosa”. “Calma, senhora! Acidentes acontecem”. “Fala logo, querida. O que houve com o bebê?”. “Houve nada não, senhora. Só não sei se a senhora vai se incomodar: Acontece que o bebê é negro”. “Negro?! Como a

IDENTIDADE

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Ela tinha mania de julgar as pessoas pela cor da pele. Dizia que quanto mais escura a pele fosse, mas duvidoso era o caráter. Menosprezava o mundo. Dizia que a mistura de raça era um desrespeito às leis da natureza. Ignorava que todos pertencemos a mesma raça: A humana. Torcia o nariz quando via um negro na rua. Quando observava um mulato caminhando pela calçada, bradava assustada: “Aquilo ali não é coisa de Deus, não”. “Aqui essa gente não entra! Aliás, aqui em casa só entra ‘gente de cor’, se for para lamber a sola dos meus sapatos. Essa gente se multiplica como ratos! Não é preconceito, não. É higiene”.    Um dia essa mulher “muito higiênica” ficou doente. Foi parar numa cama de hospital. Quando soube que sofria de mal incurável, chorou. Quando foi desenganada pelos médicos, fez a Deus uma prece. Padeceu tanto que dava pena. A sua pele que era branca como flocos de neve: escureceu. Ficara com a cor tão carregada, que tornou-se retinta. Ficara mais preta que piche, diga-se de passage

CHILDREN OF THE SUN

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Hoje perdi o rebolado. Perdi o argumento. Esqueci o que era retórica. Estava com a resposta na ponta da língua, mas o silêncio me atropelou. Havia uma criança com a mão estendida. Uma criança raquítica me pedindo um trocado. Eu disse que não tinha. Ela me pediu um dinheiro para comprar uma galinha. Tinha três tijolos embrulhados num miolo de pão. Perguntei o que era aquilo. Ela disse: “fome”. Perguntei quanto tempo ela não comia. Ela respondeu: “à dias”. Sem saber o que dizer, entreguei tudo que tinha no bolso. Ela agradeceu e atravessou a rua correndo. Esqueceu de olhar para o lado. Esqueceu que ali passava carro. Foi parar debaixo de um caminhão de cigarro. Continuei ali sem resposta. Fiquei ali sentindo-me um bosta. Naquele instante algum engraçadinho balbuciou: “O cigarro mata”. CONTACT BETTO BARQUINN: curtacontos@hotmail.com CHILDREN OF THE SUN™ © copyright by betto barquinn 2011 TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY BETTO BARQUINN

WHEN I FALL IN LOVE

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Aquele dia ele havia pedido esmola a tarde inteira. Carregava um saco de moedas na mão. Chegando em casa, contou. A soma do seu dia de labuta chegava ao peso de cem gramas de carne. O preço da carne está pela hora da morte. Faltava para o arroz e para o feijão. Era tão grande a fome daquele filho de Deus, que cem gramas de carne não daria para tapar nem o buraco do dente: que dirá a cova do estômago. Ficou um largo tempo pensando no que iria fazer. Se passaria a noite pedindo esmola. Se voltaria para a rua e começaria tudo de novo. Mas estava cansado. Estava cansado demais para correr atrás de comida. Então, olhou para o saco de moedas, virou-as todas no chão, tomou um copo e meio de água, e engoliu-as uma a uma. A fome era tão grande que a vontade que tinha era de mastigar. Mas não se mastiga moeda. Entretanto ele precisava daquilo. Presisava sentir o gosto do aço revestido de cobre entre os dentes. Fez um esforço danado e conseguiu mastigá-las todas. A boca ficara ensanguentada. Algu

WHAT A DIFFERENCE A DAY MADE

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Hoje um homem morreu de fome ao meu lado na fila do supemercado. Havia roubado um pedaço de pão. Roubara também um tablete de manteiga de karité. Confundira o rótulo, achando que era manteiga comum, porque não era alfabetizado. Morrera, coitado. Morrera de inanição ao meu lado: na fila do supemercado.     CONTACT BETTO BARQUINN: curtacontos@hotmail.com WHAT A DIFFERENCE A DAY MADE © copyright by betto barquinn 2011 TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY BETTO BARQUINN

SENSÍVEL DEMAIS

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Ela sabia que era chegado o momento de abrir um bom livro e um bom vinho. E degustar a vida como quem degusta uma pétala de rosa. Era chegada a hora do não e do sim. O rubor em seu rosto era a confirmação de que a vida havia passado por ali. Tinha deixado algumas rugas no canto do olho. Tinha tornado a voz rouca. Tinha sofisticado o paladar. Já não era mais uma menina. Contudo possuía uma doçura cristalina: como um oásis no concreto. Estava disposta a beber a si mesma. Estava disposta a engolir-se por inteiro. Era a vida nas páginas de um livro. Era o vinho na taça de cristal. Era o passado. Era o presente. Era o futuro. Era o infinito. Era a eternidade.  CONTACT BETTO BARQUINN: curtacontos@hotmail.com SENSÍVEL DEMAIS ™ © copyright by betto barquinn 2011 TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY BETTO BARQUINN

FOI DEUS

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Todas os dias passo as tardes perdido no meu jardim. Ali olho cada detalhe do mundo. Observo a beleza da flor. Ouço juras de amor. Vejo a árvore crescer defronte do meu jardim. Todos os dias paro um pouquinho, feito um passarinho, para olhar as maravilhas de Deus. Foi Deus que colocou-me em teu caminho. Foi Deus que botou minha vida em tuas mãos. Foi Deus que fez este amor, que uso para escrever-te. Foi Deus que entregou-te o papel onde deposito minh’alma.  E deu-te meu espírito a ti    CONTACT BETTO BARQUINN: curtacontos@hotmail.com FOI DEUS © copyright by betto barquinn 2011 TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY BETTO BARQUINN