ESTUPIDO CUPIDO




Ele vivia pagando cofrinho. Quando abaixava para amarrar o tênis: cofrinho. Quando fazia uma manobra radical no skate: cofrinho. Quando pegava uma Coca-Cola na máquina de refrigerante: cofrinho. O curioso é que, toda vez que abaixava, sentia um geladinho na parte de trás da calça. Encafifado, começou a prestar atenção. Às vezes fazia de propósito. Fingia que ia pegar alguma coisa no chão: e olha lá o frisson. O interessante é que a cada dia o cofrinho ficava mais pesado. E ele sabia que o blue jeans não tinha bolso para tanta moeda. Aonde é que elas iam parar?!

Certa feita, viu uma moça deixar rolar uma moeda para dentro do seu cofrinho. Foi aí que percebeu que, vez por outro, alguém fazia o mesmo. Era velhinha, era criança, era marmanjo, era colegial, era padre, era adolescente, era mulher grávida. Todo mundo achava-se no direito de depositar naquele cofrinho um dinheirinho. Assim de grão em grão, ou melhor, de moeda em moeda, a galinha encheu o papo. Isso mesmo, eu repito: de moedinha em moedinha encheu as burras de dinheiro. Aquele cofrinho era a galinha dos ovos de ouro! Portanto ele era a cara da riqueza. Era cinquenta centavos, vinte e cinco centavos, dez centavos, cinco centavos e um centavo, entrando cofrinho à dentro. Graças a isso, angariou uma incalculável fortuna. Como  o cofre cheio de dinheiro, a primeira coisa que comprou foi uma TV de tela plana. Depois um carro. Depois uma guitarra. Depois um tênis de marca. Depois uma moto. 

Não demorou muito e já tinha um triplex em Ipanema. Não entendia o porquê da generosidade daquela gente. Mas passou a aproveitar. Abaixava no Metrô. Abaixava no banheiro público. Abaixava na praia. Abaixava na mesa do bar. Se estava andando no shopping, inclinava-se para pegar qualquer coisa no chão. Agia assim inclusive de madrugada. Batata! Lá ia o povo fazendo fila para botar no seu cofrinho. Aquilo era mais agitado que banco 24 horas. Tinha dias que o cofrinho ficava tão cheio, que era preciso sair correndo para depositar o dinheiro. Em sua casa eram porquinhos e mais porquinhos, daqueles que fazemos de cofrinho, para guardar tanto dinheiro. Em pouco tempo, ele ficara mais rico que o Banco Central. Graças a bondade alheia, ele deu a volta ao mundo. Graças a generosidade humana, gravou até um CD. E como ficou famoso aquele menino! De tanto mostrar o cofrinho acabou ganhando um Grammy, um Sakharov, um Nobel e um Oscar! 

As adolescentes do mundo todo queriam vê-lo passar e dar aquela abaixadinha que mostrava o cofrinho. Desinibido, ele resolveu apelar. Liberava o cofrinho em todo lugar. Por conta disso, mostrava-o para toda gente. Foi fotografado arreganhando o cofrinho na Torre Eiffel. Foi filmado pagando cofrinho na Disney. Aquele rapaz era um sucesso! Era o orgulho dos pais! Não passava um segundo sem ouvir a mãe dizer: “Mais dia, menos dia, esse garoto vira Pop Star”. E não deu outra: ficou mais famoso que Justin Bieber entre as adolescentes. E nem precisa dizer onde todas pediam autógrafo, não é?! Mas eu digo: era no cofrinho. Isso mesmo! Pagar cofrinho virou mania nacional. Daquele dia em diante, devido o sucesso retumbante do ato, brasileiro que era brasileiro, pagava cofrinho. Não éramos mais conhecidos como o “País do Futebol”. Não, não. Passamos a ser conhecidos como o “País dos Pagadores de Cofrinho”. E como toda epidemia, o mundo todo fez o mesmo. Agora pagar cofrinho virou febre internacional. É gente no Japão mostrando o cofrinho. Gente na África com o cofre na mão. Dizem até que o presidente da República de um país emergente da América do Sul, só ganhou a eleição porque mostrou o cofrinho na televisão. A vida é mesmo um romance... Ele, que era pobre de dar dó, de tanto mostrar o  cofrinho, virou o homem mais rico do mundo. Desbancou até a lista de bilionários da Forbes. Quando chegou ao topo do mundo não teve para ninguém. Adeus Carlos Slim Helú! Adeus Bill Gates! Adeus Warren Buffett! Adeus Bernard Amault! Adeus Amancio Ortega! Adeus Larry Ellison! Adeus Eike Batista! Os homens mais ricos do mundo perto dele eram fichinha. Fazer o quê, não é? Pagaram impostos mas não pagaram cofrinho: o Leão do Imposto de Renda veio e levou tudo!                        

Pelo sim, pelo não, farei o mesmo. Amanhã vou ao centro da cidade, abaixo para pegar qualquer coisa no chão, e vejo o que acontece. Quem sabe eu não fico rico também. Afinal de contas, a esperança é a última que morre. Espero que só depositem dinheiro no meu cofrinho. Ouvi dizer que algumas pessoas que tiveram a mesma ideia, acabaram ficando com uma baita ardência naquilo que rima com “u”.

Pensando bem, se for para ficar rico assim: quero, não. Ardência no “u”: quero, não.



Tornar-me Cupido ou Cupidão?!

Quero, não.



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