MUITO POUCO
A minha vida é muito chata. Não queira ser eu. É tudo muito em preto e branco, monótono, devagar quase parando. É claro que tenho dias de glória. Quem não os tem? Nesses, fico estacionado em qualquer canto de minh’alma, como um carro sem gasolina. Às vezes toco piano. Às vezes Canto Gregoriano. Às vezes componho uma canção. Esses são dias ensolarados. Dias difíceis de se esquecer. Mas eu me esqueço. Contudo, tem aqueles que são meio barro, meio tijolo: onde o melhor é ficar calado. Tem dias que me sinto bem. Em outros largo mão de mim mesmo. Tem uns até que nem banho tomo. São dias de puro descontentamento.
Se sou feliz? Acho que sim. Só que algumas coisas me atormentam a alma. A miséria, por exemplo. Esta me deixa louco. Como é que num planeta tão fértil alguém passa fome? É esta imoral distribuição de renda que faz isso com as pessoas. Tem a avareza também. Esta faz com que o sujeito fique dependente do dinheiro e não veja quem está a seu lado. Isso me aborrece e me deixa doente. É o tipo de coisa que nunca vou me conformar. Entretanto, além da indignação que me arrebenta os nervos, tem poesia aqui dentro. É a ela que ofereço todo o meu bom-humor. Sim, sou bem-humorado. Às vezes acho graça do que não tem graça. Fico rindo à toa. Rio quando assisto desenho. Rio quando leio gibi. Rio até quando coloco os pés fora de casa. Tem gente engraçada na rua. Tem gente que anda esquisito. Tem sujeito que é old-fashioned… aí acho graça. A minha ingenuidade me permite essas coisas… Sou uma criança no corpo de um adulto. Um adulto responsável: que isso conste nos Autos! Mas ainda assim uma criança grande.
Saudade dos tempos em que a vida era só carrinho de rolimã. E quando a gente cansava de descer a ladeira ao sabor do vento, era só deixar o carrinho de lado, e correr para o abraço. Desde pequeno jogo bola. Futebol me faz bem. Entretanto, de uns tempos para cá, tenho preferido videogame. Videogame também me faz bem. Enfim, por estas e outras, não queira ser eu. Já sinto o peso da idade em minhas costas. Sou um velhinho embrulhado para presente. Um velhinho no corpo de um adulto com uma criança dentro. De uns tempos para cá esqueço das coisas. Quando me perguntam sobre a vida, quase sempre erro as respostas. Minha vida é uma bosta.
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