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A gorda magra:

Ela parecia um porco em pé. Era carnuda, massuda, espadaúda. Tinha o peso de uma balança. Duzentos e quarenta quilos por um metro e meio de gente. Muita coisa. Por isso era difícil ser ela. Contudo amava-se. Foi a única que conheci até hoje que não se odiava nem um pouquinho. Todo mundo que conheço se odeia. Ela, não. Ser gorda não incomoda mais que o preconceito. Preconceito machuca. Preconceito mata.

Um dia, depois de muito esforço, conseguiu emagrecer. Foi um dia de glória. Dia para não esquecer mais nunca. Quando subiu na balança, e viu o ponteiro marcar setenta quilos, chorou de alegria. Chorou tanto que urinou-se toda. Era uma cachoeira descendo pelas pernas. Agora sim seria feliz. Estava de alma lavada. “É uma questão de mobilidade” — dizia. “É uma questão de saúde”. Hoje podia o que antes não podia. Respirava melhor. Caminhava melhor. Vivia. Era chegado o momento de parametrizar. Senhora de si, seguiu confiante em sua jornada. Cedo ou tarde, engordaria. Mas agora era só poesia.

Não que antes não fosse.


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