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Mostrando postagens de julho, 2011

TEMPOS MODERNOS

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Ele é do tempo que ‘homem com homem virava lobisomem’ e ‘mulher com mulher virava jacaré’. “Mas agora não é mais assim, não” – pensou. “Hoje em dia homem com homem e mulher com mulher vira casamento”. Desconhecia esse “novo mundo”, onde pessoas do mesmo sexo, simplesmente amam-se. Era incapaz de compreender que o amor chega quando a gente menos espera. Pode estar do outro lado do balcão, com o peito cabeludo, tomando cerveja. Ou de calcinha e sutiã: sentado no banco da praça. Esquecera-se que se Francisco ama João e Ana ama Maria, então que sejam felizes até que a morte os separe. Ser feliz para sempre é uma questão de opção. Isso mesmo: Opta-se por ser feliz. E pouco importa se o vizinho dorme com outro homem e a vizinha idem: mesmo que o “idem” dela seja outra mulher. As pessoas perdem muito tempo julgando. Eu quero é que todos sejam felizes. Não vou ficar julgando ninguém, enquanto a minha sopa esfria. Quero empanturrar-me desse caldo delicioso que é a vida. E de sobremesa: uma roda

SER

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Eu sou uma máquina de escrever, Tu és o que quiseres ser, Ele é a biblioteca de minh’alma, Nós somos o sortilégio, Vós sois o arrebatamento, Eles são a vidraça que  parte a luz em pedaços. (Eu sou uma máquina de escrever)    CONTACT BETTO BARQUINN: curtacontos@hotmail.com SER™   © copyright   by Carlos Alberto Pereira dos Santos 2011 TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY BETTO BARQUINN

DEBAIXO DOS CARACÓIS DOS SEUS CABELOS

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Ele acordou com vontade de dar um ‘tapa na cachorra’. Não deu. Acordou com vontade de dar um ‘tapa na pantera’. Não deu. Saiu da cama. Andou descalço. Tomou um copo de vermouth. Acendeu um ‘puro’. Deu dois ou três passos e voltou para a cama. Era noite de lua cheia. Melhor seria ser amado. Melhor seria sentir-se culpado. Mas não deu. Acabara de separar-se. ‘Um casamento de oito anos, não termina no fim’ – pensou. ‘A vida é assim: prega cada peça na gente...’. ‘Às vezes deixa-nos doente. Às vezes deixa-nos galopante’. ‘Quem casa, quer casa’ – pensou. Mas ele quis: liberdade. Liberdade de beber com os amigos sem hora para voltar. Liberdade de futebol aos domingos. Às segundas, terças, quartas, quintas, sextas e sábados também. Liberdade de ir e vir. De pensar no porvir. De caminhar lentamente rumo ao pôr do sol. Mas ela não quis. Não quis um marido de passagem. Não quis café com bobagem. Queria mais. Queria ser domada na cama. Queria amor em excesso. Queria um homem que falasse ao seu ou

DON’T WORRY, BE HAPPY

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Ela descobriu na literatura a força para viver. Ver as palavras escorrendo delicadamente no papel, dava-lhe aquele sentimento profundo, de fazer parte de alguma coisa boa. Quando deu-se conta de si, não entendeu o mundo que vivia. Desde semente tinha uma necessidade profunda de desvendar o lado oculto das coisas. Queria saber mais. Viver mais. Amar em demasia. Queria poesia. E a saída foi arrumar letras no papel. Escrevia sobre tudo: morte, azar e sorte, pano, pão, lamento e solidão. Às vezes passava às tardes amarrotada num canto, enchendo de palavras: cadernos. Usava à máquina ao invés do computador. Usava sobras de papel. Escrevia em papelão, em papel de pão, em encarte de supermercado, em papel de parede e em rótulo de refrigerante. ‘Se era papel, era bom’ — dizia. Escrevendo conheceu Arneburg. Escrevendo conheceu Hrodna. Escrevendo conheceu muito mais: Foi à Gagarin, Yamagata, Cahors, Ílhavo, Midden-Drenthe, Quinghuangdao, Kanpur, Iráklio e Cabinda. Foi a tantos l

WE HAD IT ALL

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O semeador de almas caminhava tranquilamente pelo passeio público, cheio de amor para dar. Tinha sido viciado em drogas. E agora, livre do vício, experimentava o que era viver longe do mal de si mesmo. Perdera muito tempo na vida,  —  largado num canto. Passara anos sem gosto para viver. Acordava, bebia, fumava, drogava-se. Depois dormia e voltava à lama de novo. Era um círculo vicioso que custou-lhe vida, saúde, dinheiro e amor. A mulher: suicidou-se. Os filhos: foram para o orfanato. O que ninguém percebe é que uma família desestruturada: acaba. Os filhos não tem culpa da má sorte dos pais. Ninguém que não possa cuidar de si mesmo, deveria ter filhos. A sanidade é o primeiro passo para educar alguém. Caso contrário, cria-se a saia justa de colocar mais um órfão no mundo. Ninguém é obrigado a aprender a amar a si mesmo. Mas deveria perceber que amar aos outros é primordial. Tudo bem que quem não se ama, não ama ninguém. Mas desde o momento que colaca-se um filho no mundo, – o discurso

CASA NO CAMPO

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Maria é o tipo de mulher que apanha calada, com medo do grito ferir o ouvido sensível dos vizinhos. Tem uma vida desgraçada, que impõe dor e sofrimento, e mais nada. O marido, um ser abominável, agarrou-se ao vício do álcool com tanta força, que não larga a cachaça por nada desse mundo. Os filhos, Maria Rita e Carmo, são dois pobres coitados, – obrigados a presenciarem os maus tratos do pai e a inércia da mãe. Uma vida endurecida à tapa na cara. O pai já bebeu a felicidade da família a muitos anos. O alcoolismo secou-o como uma folha de papel. Pele e osso, sim senhor, – mas com uma bravura de dar medo. Maria acostumou-se a viver pelos cantos: horas chorando, outras lamentando, como se a vida fosse um fardo dificílimo de carregar. Julgá-la seria fácil, se não fosse covardia. É errado julgar a quem quer que seja. Quanto mais fazer juízo de valor, como se qualquer um de nós, tivesse acima do bem e do mal. Todo mundo erra. Todo mundo pena. E ninguém tem bom-senso quando está com a corda no

APESAR DE VOCÊ

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Hoje é o primeiro dia da minha vida sem o álcool. O primeiro dia do meu vazio: Só por hoje. O que eu estou sentindo? Nada. Não estou sentindo nada. Guardo no peito um pressipísio, e na sombra do vazio, uma vontade imensa de jogar-me. Devo ou não, suicidar-me? Não. Parei de beber por que não dava. Não dava para viver assim. Desperdicei a minha vida. Desperdício de sonho: de saúde, de vontade. O orgulho e a vaidade atropelaram-me com o pior de mim mesmo. Vivi a esmo. Esmaeci. ‘Bebo para esquecer’ – eu disse. ‘Bebo para aliviar a minha dor’ – pensei. Quis matar minha poesia num gole de covardia. Matei a minha alegria. Sofri pelo medo de sofrer. Mas ainda tenho medo. Medo de não conseguir. Medo de subtrair. Medo de voltar a ser aquela triste figura de outrora. Medo de não sair daqui agora. Sim, sou alcoólatra: mas não bebo. “Amanhã vai ser outro dia”, – diz a letra da canção. E onde estará minha alegria? Onde foi parar meu coração? Que solidão é essa que apavora-me? Onde foi parar minh’alm

LARANJA MADURA

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Hoje acordei com ganas de ser mimado. Tinha umas contas para pagar: paguei. Tinha uns pedidos de desculpas guardados na gaveta: pedi. Acordei arrancando minha sujeira debaixo do tapete, e atirando-a no chão da sala, – para ver se enfim começo a viver menos culpado. Acontece que sou tão pobre e meus sentimentos vem aos borbotões, que às vezes esqueço que sou humano, falível, chato, mal-humorado e sem graça, – e quero resolver todos os problemas do mundo com a ponta dos dedos. Não existe varinha de condão para pessoas como eu. Aqui no meu mundo as coisas não resolvem-se num passe de mágica. Muito pelo contrário: dou um duro danado para sair da cama, pegar na lixeira a minha vidinha sem graça, e sair por aí dizendo para um e para outro, que viver vale a pena. Porque vale mesmo. Decidi seguir em frente: doa a quem doer. Não posso ficar parado e não vou ficar aqui dizendo que minhas dores são enormes, minhas ideias são estapafurdias e que fico o dia inteiro policiando-me para não sair corre

BACK TO BLACK

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Amy subiu para o andar de cima com um gosto amargo na boca: Back to black. Apaixonou-se pelo homem de sua vida, que apaixonou-se pela mulher da vida dele. Fossa, fossa, fossa. Ela viveu como quem soubesse que morrer não é tão ruim assim. Julgá-la seria um desperdício: Jogue a primeira pedra quem nunca tropeçou. Adepta do famoso: “Cigarrinho de artista”, Amy extrapolou. Pegou pesado em todo tipo de droga. E o cigarro ficou para trás, – esquecido numa pilha de amor e ódio. O romance de Amy e Blake foi a versão barra pesada de Romeu e Julieta: Embora não haja nada mais barra pesada que Romeu e Julieta. Nem Bonnie e Clyde, com aqueles assaltos a bancos e assassinatos no curriculum, chegaram a tanto. Que dirá Amy e Blake: a vida imita a arte, mas ninguém supera Shakespeare(!) Modernos até a overdose, – tornaram-se os últimos românticos: de volta ao luto. Viver não era fácil para Amy. Viver não é fácil para ninguém. Sua vida era uma novela mexicana, – filmada no submundo de Londres. Amy era

O CASAMENTO DOS PEQUENOS BURGUESES

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Foto: Diego Borges   O casamento foi animado como uma chuva de arroz. Os noivos eram ador á veis, os padrinhos ó timos, algo impressionante. Quem n ão pegou o buqu ê foi porque n ão quis. A noiva, muito elegante, preparou um buqu ê para cada convidada. Assim, de maneira muito gentil, todas as mo ç as tinham as mesmas chances, de encontrarem ali mesmo na festa: O Pr í ncipe Encantado. Para tal, fez com que cada cavalheiro, convidasse cada uma de n ó s para dan ç ar. Foi lindo. À meia-noite, fomos brindados com uma chuva de p é talas de rosas. A orquestra n ão parou de tocar um s ó minuto, trazendo tanto romance para os nossos cora çõ es, que estamos apaixonados at é agora. Sa í mos da festa ao amanhecer, com a certeza de que o amor viera para ficar. Descemos Santa Teresa. Chegamos à Lapa. Casamo-nos tr ê s dias depois. N ão sei quanto a ti, mas esta foi a noite mais feliz da minha vida. A noite que te conheci: Meu amor. O CASAMENTO DOS PEQUENOS BURGUESES ™   © 2011 TODOS OS DI

FOLHA MORTA

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  Eu nunca fui bom nesse negócio de dois para lá, dois para cá: mas tentei. Tentei não   ser tão   inocente. Tentei comportar-me feito gente. Tentei. Mas não   deu. O nosso casamento tornou-se um vaudeville. A nossa jura de amor tornou-se folha morta. Tu que eras o meu céu cheio de estrelas, tornou-se a mulher onde o amor não chega perto. Por isso vou-me, mas antes despeço-me dos teus e dos meus: Adeus.    ® FOLHA MORTA ™   © copyright by betto barquinn 2011 TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY BETTO BARQUINN

SEBASTIANA

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Sebastiana é um doce, de um doce t ão doce, que prov á -la: d ó i-me os dentes. Delicada mulher, de tra ç os fortes, generosa at é nos lugares mais ú ltimos: carnuda. Arruma-se como uma princesa de “ Camelot ” . Linda, linda, linda. Passei a vida vendo-a passar debaixo da minha janela, imaginando como seria feliz, se ela me desse o prazer da contradan ç a. Logo eu, um homem de tantos cora çõ es, estou aqui, desesperado por um afago dela. Eu jamais fui o mesmo, desde o dia que vi Sebastiana passar. Ela é meu tesouro mais tesouro. Ela é minha amada mais amada. Meu desejo é casar-me com ela. N ão . Meu desejo é coloc á -la numa redoma de ouro, s ó para poder admir á -la, rez á -la, ador á -la. Logo eu, um homem de tantos horizontes, criei morada a seus p é s. Ela é meu fruto maduro. É minha luz de lampi ão . Mulher de l á bios t ão doces, que os doces mais doces, n ão podem ado ç ar. Ela deu-me esse sentimento puro, esse amor maduro, esse gosto de felicidade na boca. Carnuda,

SAIA DO CAMINHO

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Ela descia o Beco dos Tr ê s Engenhos, carregando um buqu ê de rosas vermelhas. Caminhava distra í da, como quem carregasse uma cruz t ão pesada nos ombros, que fosse dif í cil concatenar qualquer coisa. A separa ção transformara-lhe numa mortalha. Andava de um canto para o outro como uma alma penada. O marido havia sa í do de casa para viver com outra mulher. E para ela que sempre fora a menina dos olhos do mundo, era humilhante ser trocada por uma fulana qualquer. Vivera d é cadas num relacionamento “ modelo ” , onde todos  apostavam suas fichas, que seria para sempre. As amigas tinham-na como exemplo de felicidade. E ela, tola de dar d ó , acreditou que vivia um casamento de conto de fadas. O marido n ão era grande coisa: um velho beberr ão, que era mais lamentável do que adorável. 'M as para uma mulher de sua é poca, era melhor viver com um traste do que ficar sozinha ' – pensava. Nunca prestara aten ção naquele ditado que diz: “ Antes s ó do que mal acompanhad