SEÑORA



Ontem, caminhando pelos corredores do Museu Nacional do Prado, ficou paralisada ao avistar o retrato de Maria de Áustria, rainha da Hungria. Imota, descobriu que Diego Rodríguez de Silva y Velásquez pintou-a em Nápoles, durante a primeira viagem que o artista fizera à Itália. Achou-a bonita, trajando um vestido de chiffon fulvo acinzentado, na frente de um fundo escuro. O quadro em estilo barroco, óleo sobre tela, de 1630, medindo 59,5 cm x 44,5cm, é lindo. Simples, cru, encantador. Maria de Áustria nasceu em 1606 e morreu em 1646. Uma jovem mulher, que teve uma vida meteórica, apesar do poder que possuía. Casou-se com o primo, Fernando de Habsburgo; rei da Hungria, que mais tarde veio a tornar-se o imperador Fernando III. A pintura, em formato de busto, que retrata a rainha com gola alta, é de uma preciosidade majestosa. A tela foi encomendada pelo rei Filipe IV de Espanha, que desejava manter viva a imagem da irmã, que partia para casar-se em Viena. Irmã esta que jamais voltou a ver.

Ao avistar o quadro, e ficar intrêmula por mais de duas horas, perguntou-se a si mesma o que uma mulher da Idade Moderna esperava da vida. Quais eram seus sonhos? Havia um quê de “Cem Anos de Solidão” em sua biografia ou esse tipo de abandono só alcançaria as mulheres no século XIX? Se Gabriel García Márquez tivesse sido contemporâneo de Maria de Áustria, e ao invés de Velásquez tivessem-no chamado para eternizá-la em livro, o que ele teria relatado sobre ela? Não entendia porque fizera essa conexão com o escritor colombiano. Todavia “Cem Anos de Solidão” marcara-a tanto, que sempre que havia oportunidade, encaixava alguma experiência vivida no meio de suas páginas. Parada diante do quadro, imaginou como era a vida de uma rainha no século XVII. Talvez fosse menos interessante do que é hoje para uma dona de casa da classe média: sem botox, sem reposição de progesterona, sem Wi-Fi, sem temaki, sem a voz de Rocío Jurado. Até porque devia ser uma vida sem relevo: maçante, aborrecida, monótona; a vida em um período histórico que começou com a tomada de Constantinopla e terminou com a Revolução Francesa. Ou, não. “Talvez as mulheres dessem tempo ao tempo e não corressem atrás da juventude perdida: mas em busca de si mesmas”. Filosofou. Em sendo nobre, certamente Maria de Áustria teve uma vida melhor do que a de uma camponesa, à sua época. Entretanto, viver encastelada; rodeada de damas de companhia, como as do quadro “Las Meninas” (La familia de Felipe IV); outra Obra de Velásquez, que retrata a infanta Margarida Teresa de Habsburgo; acompanhada de uma anã e de uma criança que acaricia as costas de um cão com o pé esquerdo, — devia ser sufocante. Pensou em “La Maja Desnuda” e em “La Maja Vestida”, telas que havia visto minutos antes de avistar o retrato de Maria de Áustria, e que deixaram-na encantada com Goya. “Tanto Velásquez quanto Francisco José de Goya y Lucientes são maravilhosos” matutou. Eles são o seu ‘Gabriel García Márquez’, certamente.

Para ela que é aficionada em Artes Plásticas, principalmente às expostas no Museu do Prado, aquele era um dia que ficaria registrado no DNA da alma. Madrid é a sua segunda casa. A primeira delas é o mundo.   

   

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