OUR DAY WILL COME






O sucesso é coisa engraçada: coloca-nos num pedestal quase inalcansável, para quem está abaixo de nós, como se fôssemos alguma coisa, além de pessoas que morrem. Tenho vivido isso ultimamente. Depois que meu mais recente disco fez sucesso, as pessoas me tratam como uma celebridade: oferecem-me champagne (eu não bebo), oferecem-me carros de luxo (tenho trinta), oferecem-me finais de semana inesquecíveis, em locais inesquecíveis, cheios de pessoas inesquecíveis. São tantos convites, tantos presentes, que às vezes esqueço. O telefone toca, e lá está alguém do outro lado da linha, querendo uma entrevista. Já saí em dez capaz de revista só esse mês. E pelo andar da carruagem, com tudo o que já me perguntaram e me fotografaram, o material renderia mais umas cinquenta. Eu sou a bola da vez. O queridinho das multidões. Aquele que todo mundo paparica, quer tocar, quer um pedacinho. Caminhar na rua tornou-se impossível. Coisa simples como andar pelo calçadão de Copacabana, é um passeio que não posso mais vislumbrar. Só se for com cinquenta seguranças fortemente armados, com direito à cavalaria da polícia,  duzentos fuzileiros navais, oitenta veículos blindados, cento e cinquenta camburões, quatro atiradores de elite em cada esquina, uma bomba nuclear no bolso, e no caso de tudo dar errado, dois rottweilers de plantão. Não vou pagar esse mico. Não vou me expor ao ridículo, atrapalhando o trânsito da zona sul, pelo simples fato de querer tomar um pouco de sol. Isso posso fazer aqui de casa mesmo. Posso ver gente pela janela do quarto. Posso observar o mundo da minha cobertura. Posso fingir que o planeta cabe na minha sala de estar: como um rei em seu castelo.

Da noite para o dia o meu disco tornou-se um sucesso. E digo disco mesmo. Estou na estrada da música, profissionalmente, a cinco anos. E desde o primeiro trabalho, lanço minhas músicas em LP. Não quis nada em CD, mp3, ou qualquer coisa do tipo. A ideia era lançar um som que representasse para os ouvidos, o que o disco representava para a geração dos meus pais: o prazer de ligar a vitrola, colocar o bolachão de vinil no aparelho, equilibrar a agulha naquelas linhas circulares, relaxar e ouvir. E ainda tem o prazer de olhar a capa do Long Play, acompanhar a música junto com a letra, ler sobre a obra, enfim, “o disco é o maior barato”, diriam meus pais. E é mesmo. Por isso o meu trabalho é ‘vintage’. Só não imaginava que essa releitura dos tempos idos, na mídia e no estilo, levariam-me a tornar-me uma Estrela Pop. Agora ganho rios de dinheiro, sou conhecido no mundo todo, passo mais tempo no avião que em terra firme, voando, voando, voando. E aqui estou eu com 5 Grammy’s na estante, e com a maior vontade de dar um mergulho no mar, e não posso.

O sucesso é coisa engraçada: coloca-nos numa redoma de ouro  quase inalcansável, para quem está do lado de fora de nós, como se fôssemos alguma coisa, além de pessoas que morrem.




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