PARANGOLÉ PAMPLONA
Eu sou o corpo de um espírito, que de tão velho que é, parece ter a luz das estrelas. Não o corpo: o espírito. O corpo é só sucata. É aquilo que vai morrer. O espírito, não. O espírito é o que fica nas cercanias da alma. A alma é o espírito no corpo. O espírito é a liberdade da alma. Este corpo que é minha escola, e que ao mesmo tempo é minha prisão, ensina-me muitas coisas. Aqui do meu cativeiro-corpo vejo o mundo. Ele me possibilita tocar nas pessoas. E como não sou de desperdiçar as oportunidades da vida: eu toco, como, degusto e degluto a todos. Coisas e seres vivos. Seres vivos e coisas.
Agradeço a Deus todos os dias por ter coisas que funcionam. Como um pé. Como uma mão. Como o olho. Como o nariz ou a boca. E ainda tem um coração aqui dentro que é meu: todo meu. Ele bate, e de vez em quando me assusta, com seus solavancos. Ele também sente os descompassos da vida. Ele também sai do compasso e às vezes desafina. Meu corpo-prisão de vez em quando me liberta. Aí eu saio para dar uma volta: como uma gaivota; como uma tartaruga com asas de papel. Às vezes me arrasto pelo mundo como um cágado. Em outras sou mais ágil que um foguete. Mas agora não quero nada disso: nem correr, nem andar. Quero ficar aqui parado.
Hoje de manhã ao acordar, percebi que tinha alguém rezando do meu lado. Acho que era um anjo. Acho que era a alma do cobertor. Não foi impressão, não. Realmente havia alguém lá. E esse alguém me benzia. Dizia coisas do tipo: "Seja feliz". E entre o dito e o não dito, tinha até o indizível saindo-lhe pela boca. Devo ter recebido a visita de alguém que já morreu e que descobriu tardiamente o quanto me amava. Aí veio fazer-me uma visita de gratidão.
Dentro de mim mora uma estrela. Ela se apaga toda vez que me abaixo. E se acende: toda vez que me levanto.
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