BORN SLIPPY
Ela recebeu um papelinho de uma senhora no Metrô, que dizia: “Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas, não vim destruí-los, mas dar-lhes cumprimento. Eu vos digo em verdade que o Céu e a Terra não passarão, antes que tudo o que está na lei seja cumprido completamente, até o último jota e o último ponto”. Era Jesus falando através de Mateus lá no capítulo 5, versículos 17 e 18 do Novo Testamento. Ela ficou pensativa. “O que isso tem a ver comigo?” – demandou. “Por que uma senhora que tem idade para ser minha avó, iria escolher justamente a mim para entregar essa mensagem?”. Ficou ali recostada ao espaldar do banco, lembrando-se “Das Vantagens de ser Bobo”, – de Clarice Lispector, e olhando para aquele recortezinho de papel, – que de papelucho não tinha nada. Era um papelujo, sim. Mas passava de um papelete qualquer. Tinha uma mensagem que não caberia em nenhum papeleto. Embora fosse tão pequena em tamanho e tão grande em ensinamento. Por isso ela ficara alguns segundos absorvida nas palavras contidas naquele papelico. Olhava-o como se o mundo coubesse num papelzinho de seda.
Aquele era o imperativo categórico da missão do Cristo na Terra. A Boa Nova. A anunciação de que dias melhores viriam. Não sem lutas. Não sem desentendimentos. Contudo, depois de muito caminhar, um dia chegaria o momento da paz. E era isso que aquelas palavras diziam. Traziam o desanuviar do espírito, propondo uma reforma íntima; fazendo com que o indivíduo buscasse o caminho do meio, da concórdia, do diálogo; jamais da guerra. Ela estava diante do convite da solidariedade, da fraternidade, da igualdade. À frente dos seus olhos estavam letras santificadas. Eram palavras que juntas tinham uma luminosidade estelar. Cristo é alguém que trouxe um ensinamento moral tão grande, que será necessário milênios de estudo para entender-se com exatidão tudo o que Ele disse em suas parábolas. “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo” – é a mensagem mais pura que nos pode ser dado de presente. Como bem disse o Cristo: “Está aí toda a lei e os profetas”. Kant propõe o mesmo quando diz: “Faça para os outros o que gostaria que todos fizessem para todos”. Ou seja, se a humanidade for por esse caminho ético-moral, se pautarmos a nossa vida através do amor incondicional, se tudo em nós for Ágape, entendendo que “fora da caridade não há salvação”, faremos do “Vigiai e orai, para não cairdes em tentação” (Mateus, 26:41) a nossa fortaleza, amando a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos”.
Ela pensava essas coisas quando deixou aquele vagão do Metrô. As descer a rampa da estação e ganhar a rua, depositou aquele pequeno recorte de papel na alma de outra pessoa. Entendera que aquele ensinamento deveria passar de mão em mão, até que uma sociedade mais justa fosse possível. Chegara a conclusão de que quando se fala em “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”, também se diz: ame a natureza, respeite o Protocolo de Kyoto, não polua a sua mente com notícias desagradáveis ou pensamentos derrotistas, promova ideias edificantes, busque o desenvolvimento sustentável, apoie a Economia Verde, jogue o lixo no lixo, priorize o uso de coletores de resíduos recicláveis e não recicláveis, ao invés de sacolas plásticas use ecobags, valorize a vida, procure não ter vícios, não seja escravo do dinheiro, não agrida o meio ambiente, não maltrate os animais, não seja violento com seu semelhante; seja ele o planeta ou o reino mineral, vegetal, animal, hominal ou angelical.
O mesmo papel que rodou o mundo, que passou por ela e por tantos outros, também chegou em minhas mãos. Neste instante passo-o à você. Faça com ele o que quiser. Mas lembre-se: Deus está onde a gente está. E isso serve também para o fundo do poço.
Cheers!
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