MY VALENTINE
Gosto de abrir uma garrafa de beaunois e passar a tarde ouvindo Bossa Nova. Não que eu tenha o hábito de beber. Bebo muito pouco. Mas às vezes a vida pede uma chardonnay. Aí sirvo uma taça aqui e ali, deliciando-me de melon blanc, com a generosidade de um Czar. Nessas horas meu coração só se satisfaz com “Guerra e Paz”. Há momentos em que minh’alma precisa de Liev Tolstói para respirar. Aí dou o que ela pede. Aí ela recebe, em nome dos serviços prestados a mim, um balão de oxigênio. Enquanto estivermos neste corpo, minh’alma precisa dele e ele precisa de mim. Embora sejamos a mesma pessoa; a alma, o corpo, o espírito, o balão de oxigênio e eu; gostamos de pensar que somos outros: só para confundirmo-nos a nós mesmos.
Há dias em que a alma se traveste de corpo. Há outros em que o espírito jura que é alma. Há aqueles em que eu digo ser eles. Há outros em que eles dizem ser eu. Por isso Bossa Nova. Por isso Tolstói. Por isso “Infância”, “Adolescência”, “Juventude”, “Crônicas de Sebastopol”, “A felicidade conjugal”, “Cossacos”, “Anna Karenina”, “Confissão”, “O reino de Deus está em vós”, “A morte de Ivan Ilitch”, “A sonata a Kreutzer”, “O que é arte?”, “Padre Sérgio”, “Ressurreição”, “Babine – o parvo”, “Obras Pedagógicas”, “Não posso me calar”, “Hadji Murat”, “Contos Populares”, “O Diabo e Outras Histórias”, “Falso Cupom”, “Contos da Nova Cartilha”, “Kholstomér, a História de um Cavalo”, “Carta para um hindu”, “Calendário da Sabedoria”, “Ensaios e cartas”. Por isso pinot chardonnay ao invés de vodka. Por isso aubaine ao invés de Kefír. Por isso vinho branco ao invés de alimento probiótico. Por isso Borgonha ao invés de Moscou.
Por isso o amor ao invés do ódio. Por isso o amor. Sempre o amor: my valentine.
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