I’LL GO ON LOVING YOU


Três tigres tristes:

Ele era o tigre-do-cáspio. Calcorreava e corria e perpassava e afugentava e caçava em certas regiões da Turquia, da Mongólia, da URSS, do Afeganistão e do Oriente Médio. Amava “uma tigresa de unhas negras e íris cor de mel.” Um dia descobriu que a sua tigresa; que na verdade era de outro, nunca o amou. Naquela ocasião, chorou três dias sem parar. No quarto, saiu de seu covil; devorou o tigre rival; a tigresa adúltera; depois se matou.

Ele era o tigre-de-java. Caminhava por Java do nascer do sol ao nascer da lua. Um dia conheceu uma tigresa que lhe “falou que o mal é bom e o bem cruel.” Ele apaixonou-se por ela, acreditou em suas promessas, descobriu que eram todas mentira, decepcionou-se e entristeceu. Quando ela foi embora, arrancando dele haveres e verossimilhanças; ele que para vencer a tristeza precisa dela, suicidou-se.

Ele era o tigre-de-bali. Era encontrado exclusivamente em Bali. Um dia conheceu uma tigresa que lhe contou que foi “atriz e trabalhou no Hair.” Ele prestou atenção em tudo que ela disse, porque gostava de teatro, embora não soubesse o que era. Apreciava o som da palavra, pois este o acalmava. Te-a-tro. Destarte, apaixonou-se por aquela tigresa e fez dela seus Campos Elíseos. Mas ela não era uma tigresa de um tigre só. Por isso fugiu com outro na calada da noite. E ele, que era extraordinariamente carismático, enturvou-se. Em vista disso; aquele que era a felicidade em pessoa, — foi fazer da tigresa que havia “espalhado muito prazer e muita dor”; seu grande amor, ao invés de ir para a casa de Hades, acabou no Tártaro. 

     
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Comentários

  1. Monique Lopes Quintas9 de janeiro de 2015 às 10:48

    Eu sempre me impressiono com seus textos, Barquinn. E olha que já li muitos! Você surpreende sempre, porque tudo seu é tão simples, e ao mesmo tempo tão visceral, que é preciso olhos de ver e mentes capazes de entender. Você é um intelectual cabaritadíssimo, meu caro. Amo seus textos, Barquinn. Amo!

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  2. João Manuel Bento de Souza11 de janeiro de 2015 às 06:10

    Nota 1000, Betto. Você é verdadeiramente um escritor. Parabéns. Vida longa ao rei!

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