IF I CAN’T HAVE YOU


“I gave it all so easily to you my love”:

 Amar você me acabou com o fígado!  disse Ramón a Angeles. Esbaforido, entrou sala a dentro, atravessou o passadiço com piso de madeira, subiu dois lances de escada, permeou um corredor extenso, respirou fundo e bateu a porta do quarto. Angeles não se fez de rogada, correu até o marido com a resposta na ponta da língua, e esbravejou: “São atitudes assim que acabam com o casamento!”. Silêncio.

Eles eram um casal adorável. Amavam-se. Acontece que com o passar dos anos, esse amor que era infinito, emurcheceu. Caiu na monotonia, no hábito, na facilidade de ter o outro ao alcance das mãos. Virou lugar-comum. Chavão. Clichê. Não que seja ruim ter o outro por perto. Longe disso. Mas eles pararam de valorizar a escolha que fizeram e que os levaram ao altar e aos votos de amor eterno. Aqueles que dizem: “Até que a morte nos separe.” Votos, aliás, que significam aparceiramento, associação, centro, companhia, consórcio, corporação, empresa, ligação, parceirada, parceiragem, sociedade, união. Podem ser sinônimos, mas cada um desses vocábulos traz em si uma particularidade. Cada um tem um significado próprio que vai além da palavra. Entretanto, na correria do dia a dia, o casal esqueceu-se de olhar para si, e ver como realmente é. Resultado, o que era para ser o encontro das almas (como o encontro dos rios), acabou fugindo ao plano original. Tornaram-se dois estranhos dividindo a mesma cama. Dois desconhecidos debaixo do mesmo teto. Porque com o escoar do tempo as pessoas mudam. Envelhecem. Aprendem a voar e a andejar de forma diferente. Adquirem um outro olhar. E quando não se dão conta que estar casado é caminhar flanco a flanco, erram o passo. É isso que acontece quando a gente esquece de valorizar quem está do nosso lado.

 Eu fiz tudo por você. Tolerei o mau humor do seu pai, a hostilidade da sua mãe; enfrentei tudo e todos para ter você perto de mim. Entenda, eu lhe amei desde o átimo primário. Por isso não estava brincando quando disse que foi amor à primeira vista. Contudo, você nunca me valorizou. Decresce tudo que eu faço, menoscaba tudo que eu digo; me deprecia; me encolhe; me reduz. Sei que sou um bom marido. Quando você me conheceu eu lhe disse que era homem simples, com sonho inteligível e desejo frugal. Sou trabalhador, romântico, fiel a você e a mim. Jamais fiz algo que me envergonhasse moralmente. Sempre deixei claro que o que procuro é paz de espírito. Gosto de acordar cedo, labutar o dia inteiro, fazer algum programa de casal à noite, voltar para casa e dormir. Não, eu não sou um mau marido. Indubitavelmente não sou nenhum príncipe encantado. Todavia, não sou sapo. Você devia me respeitar. Enxergar as minhas qualidades. Às vezes acho que você tem vergonha de mim.

Silêncio.

 I love you.

— I love you too.

FIM


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