IMAGINE



Ela é o tipo de pessoa que dá orgulho de ser gente. Sempre chega como um sorriso no rosto, trazendo alegria aos corações mais aflitos. Tem um abraço largo, um beijo doce, uma necessidade de ajudar tão profunda, que arrebata a todos. Ninguém sabe o seu nome. Ninguém sabe de onde vem. Todas às sextas-feiras, para carro na esquina do orfanato e entra sem fazer alarde. Traz aquilo que as crianças precisam de mais precioso: amor. E esse amor vem embalado para presente. Em suas bolsas abarrotadas de carinho, traz cobertor, manta de frio, fralda, carrinho de bebê, perfume, brinquedo, jogos educativos, algodão, esparadrapo, mercúrio cromo, sabonete, xampú, condicionador, escova de dente, creme dental, roupa, sapato, chinelo, livro, caderno, lápis de cor, caneta, apontador, estojo, flauta, violão, e uma série de coisinhas mínimas, pequenas, grandes e enormes, que abençoam a vida da gente. Quando a nossa vida está num marasmo que dá gosto, lá vem ela povoando as nossas almas de afeto. Sempre vem uma moça com ela, que a chama de mãe. A filha também é doce como cana-de-açúcar. Traz dentro de si uma solidariedade tão grande, que falta espaço em nossos corações para tanta generosidade. Precisamos acomodá-la em estantes de sentimentos dentro da alma, para aos poucos, de pote em pote, de vasilhame em vasilhame, utilizarmos com sabedoria cada gota de carinho que nos é ofertado. Se alguém está triste, mãe e filha leem poemas, costuram, assam bolo, cantam uma música, e celebram a vida com todo o seu esplendor. Se alguém está feliz, contam-nos histórias infantis. Todos recebem a mesma quantidade de afeto. É como se elas trouxessem com elas um medidor. A atenção a nós dispensada, é uma avalanche de boa-vontade. Impossível não ter esperança perto de pessoas assim: tão necessárias às nossas almas.

A mãe pede que a filha observe cada rosto. Diz que ela deve guardar em seu espírito cada sorriso, cada lágrima, cada dor, cada sentimento bom ou ruim, que sai de nós. Diz que não viverá para sempre nesse corpo de carne. Diz que um dia partirá para uma longa viagem, que poderá ser de dias, ou de de décadas, de anos e até de centenas de milhares de séculos. E que espera da filha, enquanto estiver no céu, que dê continuidade a sua obra. Pede que a moça compreenda a seriedade de seus atos. Implora que não abandone os seus passos ao léu, para que eles se apaguem no tempo. Fala com tanta candura, que nós que só fazemos escutá-la, ficamos impressionados com alguém que nasceu com o único objetivo de ajudar. A filha, extremamente educada, ouve os conselhos da mãe de cabeça baixa. É uma lição linda se ver e uma vida linda de se copiar. Percebo nas duas uma discrição avessa a qualquer escândalo. Elas pregam a paz o tempo todo. Falam coisas que só espíritos muito evoluídos falariam. Convocam-nos à celebração ecumênica, sem falar de religião. Poderiam ser católicas, protestantes, espíritas, umbandistas, candomblecistas, budistas, hinduístas, islamístas, judaístas, ou de qualquer outra denominação filosófico-religiosa, que seriam ipsis-literis o coração de Deus. 

A caridade e a humildade são o antônimo do orgulho e do egoísmo. Por isso, certo dia, uma de nossas colaboradoras aqui do orfanato, viu essa bondosa senhora e sua filha, saírem de um luxuoso palacete, adornadas com a mais pura seda egípcia e cobertas de ouro e diamantes dos pés à cabeça. Na certa iriam para um evento social, desfilarem com toda pompa e compostura, no tapete vermelho da alta sociedade. Ao aproximar-se, a nossa colaboradora ajoelhou-se, e beijou-lhes as mãos. A senhora e sua filha pediram que levantasse, e que não contasse a ninguém que as viu. Disseram-na que iriam ao orfanato na próxima semana, vestidas de forma simples, e que levariam o maior amor do mundo, em forma de remédio, comida, amor, esperança e solidariedade. Logo despediram-se, entraram na limusine e sumiram na escuridão da noite, levando com elas um sol de virtudes.

O amor é sentimento sem fronteira. Abastece o rico e o pobre, o negro e o branco, o religioso e o ateu, mostrando-nos que fazemos parte de uma única raça, de um único povo, de uma única constelação de almas transformadas em estrelas: A Humanidade.
    


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