BLUES DA PIEDADE
Uma alma sem piedade é o mesmo que um corpo sem coração. Daqui da janela de casa, vejo o mundo a girar. Passa na minha porta gente de todo lugar. Vejo velho, vejo novo, vejo rumo, vejo direção. Tem criança que parece idoso. Tem idoso que atravessa a rua com alguém segurando a mão. Tem pipoca, tem pipoqueiro, tem carrinho de bebê, tem samambaia chorona, tem lágrima, tem dor. Vejo até as estrelas sussurrando sobre mim e você. Vejo rico, vejo pobre, vejo freira, vejo rufião. Minh’alma vagueia solta, pé na frente, pé atrás, olho aberto, olho fechado, iluminando a vida como um lampião. Eu pensei em ser grande e encolhi. Eu quis ser forte e fraquejei. Parece que quanto mais olho, menos vejo. Parece que o espelho ao mesmo tempo que me reflete tenta me ofuscar. Às vezes acordo transparente. Outras, escuro eu sou. Por mais errado que eu seja, vejo a mão de alguém a me proteger de mim mesmo. Quando estou certo, abro um sorriso. Quando peco, desço do salto. Daqui da minha janela vejo ruas e ruelas. Daqui da minha janela: a piedade tenta me alcançar.
PIEDADE ™ © copyright by betto barquinn 2011
TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY BETTO BARQUINN
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