MEU QUERIDO FRANCISQUINHO




Eu havia ido a uma igreja pagar uma promessa, para sabe-se lá Deus que santo, porquê o importante era o pedido embora o santo que me ajudara a realizá-lo tenha o seu mérito, na verdade eu nem sabia o que tinha pedido, mas estava culpado de ter demorado tanto para pagá-lo. Enfim, eu nem sabia o que estava fazendo ali. Era mais uma dívida moral do que factual. Eu pagava o que me tinham dado e ponto final. E embora eu não lembrasse de fato o que havia pedido, era justo pagar. Então, paguei. Até porque tenho vivido tanta coisa boa, a saúde não me falta, tenho trabalho, me alimento bem; que de certo alguém lá em cima cuida de mim sem que eu lhe precise pedir nada.

Era uma igreja pequena. Quase uma capelinha. Havia uns santos de madeira, um altar, um lugar para acender velas e um padre: mais nada. Nem resquício de missa, fiel, beato ou beata. Nada. Havia um silêncio profundo, daqueles que só eu sinto por dentro. No altar havia um vaso com flor de laranjeira. O cheiro era intenso e bom. Agradável ao olfato: aos olhos e aos ouvidos. Era o som do silêncio com aroma de flor de laranjeira. E tudo isso fazia bem aos olhos… Acendi uma vela. Rezei para todos os santos. Havia uma imagem de São Francisco de Assis. Era de uma beleza franciscana. O santo trazia um pássaro no ombro, outro na mão, e um cervo ao lado. O santo tinha uma bondade nos olhos que ultrapassava a madeira em que fora talhado. Havia vida ali dentro. Não sei explicar, mas o santo estava vivo. Fiquei de joelhos aos pés do santo. Ficar de joelhos me dá a exata medida de mim mesmo: e eu gosto disso. Fico pequeno quando estou de joelhos. Gosto de ser pequeno de vez em quando. Sou alto, então a minha pequenez é novidade para mim tanto quanto é para os outros. Embora eu seja pequeno por dentro, ninguém nota. Só notam o que veem. E o que veem está fora. A pequenez mora dentro. Aí eu escondo ou mostro: mas só quando quero.

Enfim, era pois, o santo e eu. O padre já havia partido dessa para melhor. Digo melhor, não no sentido de morte, mas melhor no sentido de que de certo, estava cumprindo suas outras obrigações, além de rezar missas e fazer sermões. Talvez estivesse escovando os dentes ou costurando a sua batina… Talvez. Acho que nunca agradeci tanto por alguma coisa que não sei o nome. Agradeci pela vida, pelos amigos, pelos parentes. Agradeci até por um dia ter tido dor de dente. Estava vivo, ora bolas… tinha motivo de sobra para agradecer! Quando saí da igreja-capela chovia um pouco. Chuva de verão, dessas que vem e vão como um furacão. Naquele instante me dei conta que vento bom é brisa. Embora goste dos vendavais que me visitam vez por outra, viver o instante da brisa me é revigorante. Logo eu, que nem católico sou, acabara de me encontrar comigo mesmo nos olhos daquele santo. Obrigado São Francisco de Assis por cuidar de mim tão bem assim. Obrigado mesmo. 
  



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