À VOCÊ


“Todas as cartas de amor são ridículas”:

A agulha não parou de correr o disco de 78 rotações um só instante, até a nossa música chegar ao fim. Era a voz de Carlos Galhardo no gramofone: a acústica perfeita do nosso amor. O ano era 1936. Estávamos a sós no nosso encontro retrô. A sós, em nossa serenata de amor. Se Ataulfo Alves e Aldo Cabral não fizeram esta composição pensando em nós, o fizeram, pensando neles mesmos. Pois de certo, como você e eu amaram tanto, que transformaram o pranto numa canção de amor. Eu já sofri por ti e por mim. Sofri tanto que chorei por nós dois. Mas agora, vendo-te parada à minha frente, sinto que de cada lágrima que verti, nasceu uma flor. Cafona? Fora de contexto? Clichê? Piegas? Ridículo? É o amor, meu amor… Mas antes de dar-te um beijo, declamar-te-ei aquela do Álvaro de Campos… heterônimo de Fernando Pessoa… coisa boa, coisa boa:  
  
“Todas as cartas de amor
são ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)”

O disco de goma-laca é uma carta de amor.




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