SER DIFERENTE É NORMAL



“Se alguém não é igual a você, não faz mal. Ser diferente é normal”. 
(Betto Barquinn)

Aquela casa era uma Babel pós-moderna. Ele; africano, a mãe; holandesa, o pai; japonês, o irmão mais velho; paquistanês, a irmã do meio; marroquina, e o caçula; indiano. Ainda tinha o cachorro norte-americano, o coelho português, o calango brasileiro, o gato chileno e a rosa alemã. Era uma família multifacetada: por dentro e por fora. Com o correr dos anos, foram adotando-se uns aos outros. Quando perguntavam quem começou a contar aquela história, não sabiam responder quem veio primeiro: o ovo ou a galinha. O que sabiam de cor e salteado, é que amavam a todos e a cada um, indistintamente. Ninguém ali era nem branco nem preto. Muito menos azul ou vermelho. Pois a cor naquela casa era o que menos importava. O que eles buscaram, e conseguiram, era a harmonia entre os espíritos. Sabiam que antes de alguém ser isso ou aquilo, primeiro era filho de Deus. E como acreditavam que o Criador é um Ser soberanamente Justo e Bom, não seriam eles que iriam fazer acepção de pessoas. Por isso amavam tanto. Naquele lar, todos eram bem-vindos: gordos, magros, gays, héteros, altos, baixos, rasos, profundos, largos, estreitos, crus, assados, ensopados, fritos e cozidos. O que importava para eles não era o que os diferenciava, mas o que os aproximava. Primeiro olhavam para dentro, depois para fora. Não ligavam para nada que tivesse princípio na matéria. Entendiam que o outro não precisa ter rótulo, porque ninguém nasce com letreiro na testa. Eram amantes das almas: diziam que se cada um é um em particular, então tem todas as possibilidades do mundo para amar e ser amado. Portanto amavam o dia, a tarde, a noite, a madrugada, o tango, o samba, o foxtrot, o mambo, a salsa, a poesia: e todos os outros. Amavam o amarelo e o lilás e tudo aquilo que o amor trás.

Era uma família madura: todos ali sabiam porquê se amavam. O caçula amava o mais velho porque ele era um presente de Deus. A mãe amava o pai, porque fora ele que começara com ela aquela família. A do meio amava o gato porque ele miava como uma caixinha de música. O cachorro amava o coelho porque ele tinha o pelo mais branco que flocos de neve. A rosa amava o calongo porque ele era engraçado. O pai amava a mãe, o africano, a holandesa, o japonês, o paquistanês, a marroquina, o indiano, o norte-americano, o português, o brasileiro, o chileno e a alemã. Amava a si mesmo também. Fora isso que fizera dele o homem em que se tornara: sem preconceitos.

Ele, o africano, era doce como um favo de mel. Tinha os olhos cor-de-mar e cor-de-céu: mesmo não sendo verdes ou azuis.

Era uma família feliz. Usavam risca de giz.


           
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