O GATO
Gata vira-lata:
Ela era apaixonada por gato. Gato de energia elétrica, gato de TV a cabo, gato de internet. Era geladeira, freezer, microondas, fogão elétrico, computador, aparelho de som, aquecedor de ar, ventilador, ferro elétrico, prancha alisadora, secador de cabelo, torradeira, forno elétrico, enceradeira, aspirador de pó, batedeira, panela elétrica, umidificador de ar, vídeo game, liquidificador, TV de plasma, carro elétrico. No verão, o ar condicionado ficava o dia inteiro ligado. Ar condicionado central, é claro. Naquela casa era “miau” a torto e a direito. Gato, de verdade; da família dos felídeos (àquele que mia), ela não tinha. Pois era alérgica a pelo de gato. Nem de gato de pelúcia ela gostava. Para ela, gato bom é gato elétrico.
Um dia foi presa, julgada e condenada a dois anos de detenção. A pena: estelionato e furto do patrimônio público e privado. Quando foi para a penitenciária, tomou ódio de gato. Disse que quando fosse solta, nunca mais teria um gato em casa. Quando viu-se livre das grades da prisão, passou a ficar em pânico toda vez que avistava um carro de polícia. Afinal, gato escaldado tem medo de água fria. Ela era uma gata: vira-lata.
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