APARÊNCIAS


Com a alma dormente:

Ela lia “Batuque”, — de Cecília Meireles, enquanto comia um pedaço de pão.  Era pão dormido: àquele que é duro por fora e árido por dentro. A migalha esmigalha. A casca esfarela. No meio do esfacelamento, ela dizia: “Aprendi com as Primaveras a me deixar cortar para poder voltar sempre inteira”. Traduzindo em flores, ou então em borboletas, era como se dissesse: “Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”. Quem a visse por fora, veria terra seca sobre chão batido. Quem a visse por dentro, encontraria um lago forrado de diamantes. Era a coisa mais linda. O poema mais bonito. Era fruto maduro. Raio de sol no escuro. O eterno-infinito. Era arco-íris pintado à mão nas pedras do sertão. Era o que foi dito, sem precisar ser escrito. Era onda banhada pela borda do mar. Era erudição. Era beira-mar.

Quando encontrei-me com ela lá pelas bandas do Norte, leu-me as mãos e disse-me que eu tinha sorte: como uma árvore que antes de ser fruto é semente. Antes de desaparecer entre nuvens de algodão, ela que parecia mais anjo que assombração, olhou-me nos olhos e disparou: “Há pessoas que nos falam e nem as escutamos, há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam, mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre”. Ao calar-se; foi embora, deixando-me a alma de fora.



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