CONGA, CONGA, CONGA



Prisioneiros da caverna:

Eu sinto falta do tempo em que as pessoas conversavam olhando nos olhos. Ali, de frente para o desconhecido, entregues ao acaso. Hoje é diferente. Vejo pessoas andando na rua, olhando para baixo, mexendo no celular. Nos transportes públicos é uma loucura: todo mundo vitrificado em uma tela Retina Display, que mede algumas poucas polegadas, mas que representa um universo de possibilidades. Eu acho pura perda de tempo. Sinto falta da época em que as pessoas liam livros. Entrava-se em um coletivo e lá estava o sujeito lendo. Até nos cafés a coisa mudou. Lembro-me que sempre havia alguém com um livro nas mãos, enquanto outrem trazia a alma nos olhos. Agora é diferente: celular, tablet, notebook… E ainda se espantam do mundo andar tão complicado!

Que o ser humano é incompreensível, disso eu sei a tempos. Agora, esse novo mundo de plástico com suas possibilidades infinitas, me encabula. Até porque não acho que haja tanta possibilidade assim. O ser humano continua nascendo, vivendo, morrendo, e se perguntando: de onde eu vim, o que sou, para onde vou? Porém, de uma forma tão displicente e amadora: deixando o que importa de lado, abrindo espaço para o individualismo, reclamando de solidão e promovendo a incomunicação. Este afastamento voluntário me deprime.

Aquela época em que as pessoas olhavam-se nos olhos, entende? É dela que falo. Não gosto da ideia de sair para jantar e passar a noite debruçado em um smartphone. Ainda mais tendo alguém comigo à mesa… Nós perdemos tempo precioso dissipando anos, ciclos, datas, dias, eras, etapas, meses, minutos, momentos, prazos, segundos, e até séculos da nossa linguagem humanamente constituída, teclando e teclando. Desde quando um aparelho inumano pode substituir o ser humano? Acho no mínimo uma piada de mau gosto, para não dizer uma temeridade; o fato de estar com alguém em uma festa, e este indivíduo trocar a minha companhia por horas e horas ao telefone. Além de ser falta de fidalguia, educação, gentileza, sobranceria e comprometimento com o outro, nenhum aparelho inventado por Martin Cooper, ou seja lá quem for, irá substituir a boa convivência entre os homens.

Eu amo tecnologia. Todavia, quando as relações humanas reais são substituídas por redes virtuais, me sinto em meio ao Mito da Caverna. Aquele, em que seres humanos acorrentados só podiam olhar para as paredes do algar, e enxergar sombras: deduzindo daí o que ocorria lá fora. Se for assim, prefiro ser aquele que se desacorrenta e vai ao exterior ver o que há: e volta para dizer o que acontece lá fora. Mesmo correndo o risco de ser queimado vivo ou jogado às feras, nada é mais perigoso do que viver no mundo do faz de conta. Porque pior do que ser engolido pelo mundo que há fora da caverna, é abaixar a cabeça e obedecer a um pedaço de plástico que nem humano é. Pois não importa o que é extrínseco, desde que haja o essencial. No entanto só há estranhamento aqui dentro.  

Se no dia presente Platão reescrevesse “A República”, ficaria boquiaberto ao ver como a humanidade corrente é capaz de agir impensadamente. Relendo a Obra do fundador da Academia de Atenas, parece-me que a Alegoria da Caverna foi escrita há cinco minutos: não mais.   


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