VALERIE

- fevereiro 01, 2012

Ela falava sobre caridade material e caridade moral. Falava coisas tão lindas, que deixava o espírito da gente, leve como uma folha de papel. Era uma mulher tão doce, que tinha gosto de sorvete de limão. A sua delicadeza era emoldurada por um sorriso tão luminoso quanto um raio de sol. Falava de amor e caridade: sentimentos tão simples, tão caros, tão renovadores da alma e do corpo, que caíam como um bálsamos em nossos espíritos. Dizia que a reforma íntima se fazia diariamente. Para tal, era necessário abandonar velhos paradígmas, construir uma personalidade forte, deixar o preconceito de lado, expulsar de dentro de si o vício, o egoísmo, a vaidade, o orgulho, e a carência de perdão. Ensinava de forma didática. Exemplificava em si: palavra por palavra. Tinha o dom da retórica, mostrando-nos através de sua ética impecável, que para ser feliz: bastava apenas amar.

A caridade material, segundo ela, é aquela que faz com que o sujeito ajudado, sinta-se tão bem com a ajuda, que pense ser ele o autor da benção. “Ajudar é fazer o outro entender que a doação é gratuita. Amor é coisa que não se cobra. Não se coloca preço naquilo que vem do coração. Portanto, ajudar é mágico. Predispõe uma vontade genuína de anonimato. “Que vossa mão esquerda não saiba o que faz vossa mão direita” é isso, – dizia. Jesus é um sujeito simples, porque compreende que amar ao próximo como a nós mesmos, é o mesmo que sermos um, e ao mesmo tempo sermos muitos. O ser humano só aprenderá a amar quando aprender a ser plural. A dor do outro é tão intensa em mim quanto é no próprio. O mesmo acontece com a sua alegria. O bem me contagia como milhões de fogos de artifício. Amor é luz. Amor é cura. Amor é benção. Se cada um de nós percebesse o quanto pode ser util, não perderia o seu tempo, sofrendo por pouca coisa. A vida é muito mais do que isso. Existe felicidade, existe carinho, existe afeto lá fora. Não podemos nos matar por cinco minutos de sofrimento ou amaldiçoar a Deus porque algo não deu certo. Temos que dar tempo ao tempo: estudar, trabalhar, fazer planos, doar alegria, emprestar simpatia, trocar bons sentimentos. Viver é escambo. Viver é dar ao outro o que temos, e receber deste, o que carecemos. Se cada um der aquilo qu tem: o mundo será um mar de rosas. Todos nós temos um pouco de anjo aqui dentro. O gérmen da felicidade foi plantado em nós no dia que nascemos para a vida. Temos Deus em cada milímetro de nossas almas. Deus está na nossa corrente sanguínea. Deus vive dentro de nós. Para alcançarmos este Deus, e para nos alcançarmos também, é necessário apenas que nos amemos. O amor é esse dom divino que move as nossas montanhas interiores. Temos que ser um prédio edificado na fé. Não podemos ruir como castelos de areia e passar a vida sendo escombros de nós mesmos. Viver dá trabalho. Viver exige organização. Quando as coisas dão errado, e o eixo sai de prumo, na maioria daz vezes a culpa é nossa. Nós que fomos imprevidentes. Nós que desejamos mudar o outro sem a mínima coragem de encararmos a nós mesmos. Nós que nos pasteurizamos, nos rotulamos, nos emparedamos. Liberdade é ter escolhas. Livre-arbítrio é poder de decisão. A culpa não nos leva a nada. O rancor só nos põe para baixo. O ódio só nos nivela à altura do chão”.

Desse jeito, ela ia nos mostrando o melhor de nós mesmos. Não via defeitos. Só enxergava o que é bom. Dizia que para Deus somos seres perfeitos. Pois Deus enxerga o antes e o depois do homem e do filho do homem. Dito isto, calava-se tão gentilmente, que quando percebíamos, ela já tinha ido embora. Ficávamos ali, entregues ao silêncio por horas, pensando em cada ensinamento seu, como se fosse nosso. Aquela doçura entrava por nossos ouvidos, e chegava num lugar da alma, onde tudo é paz e sossego. Em seguida fechávamos os olhos, afagávamos o coração, e íamos nos desligando desse mundo com a delicadeza dos santos. Caíamos num sono profundo: reparador. E uma vez relaxados: íamos parar num lugar pertinho do céu.