FONTENAY AUX ROSES
Quando vislumbrei estudar filosofia na Europa, decidi que Paris seria a minha casa. Deixar o Irão não era problema. Sabia que o dia que saísse de casa, não iria até a esquina: daria a volta ao mundo. Sempre soube que ao fazer dezoito anos, meus caminhos seriam outros. E quando a gente sabe o que quer, torna-se impossível voltar atrás. Foi assim que aconteceu. Cheguei em Paris numa manhã de verão. A Estação Gare de Lyon estava iluminada. Quando se é novo na cidade, até a luz do sol parece diferente. Em Paris senti-me como se estivesse em casa. O novo em segundos tornou-se meu lar. Jamais pensei que a vida me daria um presente tão grande. “Estou em Paris!” – gritei.
Feliz da vida, peguei o metrô para Rue du Chemin Vert, e hospedei-me no Hôtel Champanille. Hotel este que me traz ótimas recordações: os primeiros amigos franceses, o cruzeiro no Bateau Mouche, o rio Sena, a Notredame, a Galleries Lafaiette, o Champs Eleysées, a République, a Sorbonne. Tudo isso vivi, hospedado no Hôtel Champanille.
Todos os lugares maravilhosos que conheci nas primeiras semanas na Cidade Luz, eternizaram-se em minh’alma. Lembro-me de cada folha que vi cair no outono: das árvores do Parque Monceau. Não esqueço dos amores que vivi em Belleville. Amores estes, que nunca mais os verei tão belos. Falar da hospitalidade dos franceses, e da essência da vida acariciando o meu rosto, é mágico demais. Sinto saudades de Paris: morando em Paris. Nunca deixarei de ser turista aqui. Sempre encontro algo novo. Jamais irei me ingessar. Tenho viva em mim, a lembrança da primeira vez que deite-me debaixo da Torre Eiffel, com todas aquelas pedrinhas massageando-me as costas. Senti-me ínfimo naquele dia. Contemplando a vida através desta treliça de ferro, jurei ver Deus. Foi uma felicidade tão grande, que poderia tentar explicar o porque destas lágrimas que invadem-me os olhos, toda vez que lembro-me daquele dia. Mas felicidade não se explica. Felicidade sente-se.
Amadurecer em Paris foi muito importante para o meu crescimento moral. Aqui aprendi a dar valor a um abraço, um carinho, um aperto de mão. Longe de casa a gente vê a vida com outros olhos. Paris trouxe-me a paz que sempre sonhei. Digo isto, porque quando meu pai morreu em Teerão, foi a única vez que pensei em voltar para casa. Enterrar o pai é um ato de respeito profundo. Minha mãe precisava de mim, naquele instante mais do que nunca. Por isso fui, enterrei papai, organizei a casa, dei todo apoio à família, beijei a face de minha mãe, e voltei para Paris. Hoje estão todos bem: graças a Deus.
Ainda vivo em Paris. Ainda moro nos arredores do Hôtel Champanille. Ainda acompanho as nuvens nas tardes de sol. Ainda dou aulas de filosofia na Sorbonne. Ainda conto estrelas no céu. Ainda amo o verão, como se fosse aquele que abraçou-me o corpo e a alma, no dia que aqui cheguei.
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