LES OURS BLANCS
Ele tinha o hábito de reclamar da vida. Ficava chateado porque não tinha dinheiro para comprar uma mansão em Paris. Sentia-se triste por não poder ter um porsche vermelho. Ressenti-se por não ter condições financeiras de viajar na primeira classe. Em outras, chorava por não poder fazer um cruzeiro pelas Bahamas. Era um sujeito triste. Daqueles de dá pena de cruzar com ele na rua. Acusava a esposa de não ter ambição. Culpava os pais por ter tido poucas oportunidades na vida. Odiava a pobreza como quem odeia a si mesmo. Era rabugento, insensato, mau agradecido, estúpido, egoísta. Queria tudo para si e recebia tão pouco da vida, que julgava-se o último dos homens. Dizia que Deus estava ocupado demais para olhar para ele. Resmungava pelos cantos, insistindo que não tinha anjo da guarda. Ou se tinha, deveria ser surdo, porque não ouvia as suas preces. Esquecia-se que tudo que temos na vida é um empréstimo de Deus. Deus dá, Deus tira. Não entendia que tudo que chega às nossas mãos é uma questão de merecimento. Ninguém deve ganhar um prêmio por tirar zero numa prova. Nenhum pais sensato compraria uma bola para um filho como reconhecimento por ir mal na escola. Mas ele não compreendia nada da vida. Invejava o estilo de vida confortável do outro. Olhava por cima do muro do vizinho e via a grama mais verde. Era uma erva daninha querendo se passar pela mais minda flor. Não tinha o dourado do trigo. Não emanava um raio de sol. Era ensimesmado, sisudo, contrariado com a vida. Tecia todo tipo de comentário desnecessário, deselegante, decepcionante. Via no sustento dos filhos um calvário. Tudo para ele tinha um peso difícil de carregar. Sua cruz era pesada, porque sua alma era pesada. Humilhava e era humilhado. Esmagava e era esmagado. A vida sempre encontrava uma forma de pagar-lhe na base do olho por olho, dente por dente. Era triste de ver. Mas ele insistia em lever uma vida sem raciocínio. Por isso nunca deu valor às pequenas coisas da vida. Tinha a alma suja demais para entender que só os pobres de espírito adentram no Reino dos Céus. Pobres estes que despiram-se do orgulho e da vaidade. Homens e mulheres que souberam enxergar-se como parte do todo. E quem pensa assim não precisa provar que é aquilo que não é. Quem alimenta-se da humildade entende que na vida é preciso curva-se para entrar na Casa de Deus.
Dia desses ele morreu. Foi parar num lugar tão sombrio que mal dava para entender o que era aquilo. Ficou perdido entre o nada e coisa alguma. Já tinha recebido a recompensa na Terra. Agora era hora de pagar.
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