I DON’T WANT TO MISS A THING


Entre “Metamorfose Ambulante”, “Maluco Beleza” e “Balada do Louco”:

Ele tinha medo de ficar maluco. Maluco, não. Louco. Maluco é coisa de Raul Seixas. O bom e velho maluco beleza, que dizia: “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. E completava: “Enquanto você se esforça pra ser um sujeito normal e fazer tudo igual. Eu do meu lado, aprendendo a ser louco, um maluco total, na loucura real”. Loucura é outra coisa. Loucura é coisa de Os Mutantes, onde juntos, Arnaldo Baptista e Rita Lee, alvitraram: “Dizem que sou louco por pensar assim. Se sou muito louco por eu ser feliz. Mas louco é quem me diz. E não é feliz. Não é feliz”.

Nele havia o pânico de ficar louco. Doido de pedra. Doido de dizer ‘eu te amo’ para o asfalto. Doido de lamber sabão. Doido de desejar ‘bom dia’ ao diabo. Doido de hospício. Acontece que aquele medo vinha dos outros. Pois, no fim de contas, a culpa é sempre dos outros. Dessarte, tinha medo. Medo da incapacidade de pensar e de amar dos outros pegar nele. Medo de chegar à conclusão que não há nada para fazer nesse mundo além de viver. Medo de envelhecer sozinho, duro e oco, apesar de ter se dedicado, e buscado, alguém. Medo de achar-se uma perda de tempo. Medo até de tornar-se uma pedra no sapato. Por isso não tinha amigos. Pois se havia nele muita pergunta sem resposta, havia também certezas. Portanto, tinha convicção que se fizesse amigos, iria encontrar nestes tantos problemas, manias, maluquices, defeitos, que seria uma decepção para si mesmo. E como a sua vida não era nenhum mar de rosas, lá vinha o medo a assombrar-lhe por debaixo da porta. À vista disso, amar nem pensar. — O amor é sentimento tão árduo, — dizia, — que nem os doze trabalhos de Hércules foram tão exaustivos. Sim, nele havia muita asserção. Mas também muita incerteza. E era ela, a ambiguidade, que assolava-lhe a alma.            

    
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Comentários

  1. Mariana Soares de Almeida Bastos11 de julho de 2014 às 07:08

    Betto, o que mais me encanta em sua obra é a sua generosidade. O seu talento é inegável, porque a sua capacidade de criação é fora do comum. Obrigado por dividir comigo, e com seus leitores, tamanha sabedoria. Amo seus textos! I love you!!!

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