HOLDING BACK THE YEARS


Shattered & heartbroken:

Estava me sentindo pesada. Havia carregado aquela barriga por trinta e nove semanas, e agora em vias de botar meus gêmeos no mundo, não havia vaga. Meu Deus, fiz tudo certo. Procurei o posto de saúde, empreendi o pré-natal, providenciei os exames, não faltei a nenhuma consulta. A médica disse que meus filhos nasceriam saudáveis, que meu parto seria normal, que tudo sairia bem. Agora vem a enfermeira, e diz: “Não há vaga”. Eu devia ter pago um plano de saúde. Devia ter obrigado o pai dos meus filhos a me ajudar. Mas ele sumiu. Sumiu como somem todos os homens fracos. Fraco, sim. Eu não engravidei sozinha, ora bolas! Ele disse que me amava e que cuidaria de mim… Todavia, agora que preciso dele, sumiu. Covarde!

Por que eu sou tão pobre? Por que tive que vir à maternidade de ônibus? Uma mulher prestes a dar à luz não devia passar por isso. E agora, o que faço? Tenho meus garotos aqui no corredor do hospital?” pensei. Nem numa maca me colocaram Estava eu ali, sentada numa cadeira fria, ouvindo urrar de dor um homem que havia sofrido um acidente de moto, nauseada com o cheiro de éter, e sem forças para pedir que me tirassem dali, me levassem para a sala de cirurgia, e me fizessem o favor de arrancar meus rebentos de mim.

Duas horas se passaram e nada. O que sabiam me dizer, era: “Não há vaga”. Então desmaiei de dor. Já estava em trabalho de parto. A bolsa havia estourada e ninguém veio ao meu encontro. Uma enfermeira passou, e outra, e outra. Alguém pediu socorro, me contaram. Tiveram que ameaçar quebrar a recepção para algum funcionário vir me ver. Os guris estavam atravessados, me disseram. Um deles com o cordão umbilical enroscado no pescoço. Não havia como nascerem vivos, porque o atendimento demorou tanto, que eles não tiveram a menor chance. “Perdi os meus filhos” — constatei. Era o momento da dor.

Quando saí do hospital, eu que entrei com dois meninos no ventre e saí sem nenhum em meus braços, chorei por uma vida inteira. Passei um longo período acabrunhada e com ódio do mundo. Mas é melhor esquecer.


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