L’ALIZÉ


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Ela releu pela quinta vez “Em busca do tempo perdido”, de Marcel Proust, e saiu caminhando pela sala: cheia de silêncio e solidão. Passo a passo, lá ia a moça “No caminho de Swann”. Passou por abismos, esbarrou em vales, tropeçou no tempo, foi engolida pelo vento alísio. Este, aliás, era um híbrido do presente e do passado: repaginados. Parada no meio da estrada (a estrada de sua caminhada), ficou inquieta quando topou com “À sombra das raparigas em flor”. Era o amor, logo ele, arrancando dela todo e qualquer sentimento: desprendimento. Refeita, tropicou em “O caminho de Guermantes”, deparou com “Sodoma e Gomorra” na estante, encontrou “A prisioneira” caída atrás de um livro em uma prateleira, e evitando abalroar-se com “A fugitiva  Albertine desaparecida”, deu voltas e voltas pelas cercanias do sofá, passou pela mesa de centro, bateu com os pés em tudo que viu pela frente; e antes de ir ao chão, apoiou-se no piano, chocou, colidiu, embateu; aprumou-se, ficou de pé, e com os óculos enevoados, alcançou com uma das mãos “O tempo reencontrado”: e foi ao rés-do-chão. Ali, toda plana, embora houvesse em si montes e outeiros, abriu os braços para Proust; que ladeado por sua madeleine (só que desta vez era ele, e não ele; o doce, que fora mergulhado em uma xícara de chá), disse-lhe: “Só pela imaginação e pela lembrança o passado ganha significado”.

Ali estava a catarse, a iconoclastia, o lirismo, o enxuto, o denso, o drama, o romance, o rumor, a densidade óssea e a ausência de calor. Ali também estava o frio, o arrepio, a palidez, e o lábio lilá; quase roxo. Ali estava o sinônimo de entendimento e profundidade. Ali estava uma mulher caída ao chão: achatada, imprensada, cavada, aprofundada, revolvida, encadernada, reeditada: libertada. Era a ausência do vício e do Vale do Silício. Ali estava a memória involuntária: A Obra de Proust era seu Himeneu.

Não, ela não levantou-se do chão. Ficou ali, eternizada. Passou a vida no infinito desse instante. Em sintaxe, como alguém que toma o remédio amargo para sobreviver, acabou por reinventar-se a si mesma.            

 

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