EMBARCAÇÃO




Ela era garota de programa. Havia atendido dois clientes naquela noite. Era inverno em Nova York. Final de novembro. Nessa época do ano o frio atrapalha os negócios. Tem a neve. Tem o trânsito. Tem as compras do “Dia de Ação de Graças”. Os clientes somem. Parece que paira uma moralidade no ar. Todo mundo fica mais contido. Mas ela precisava trabalhar. Tinha mais um cliente para atender. Já era tarde. Passava das duas da manhã. Era dinheiro fácil. O cara não era exigente. Queria o básico e nada mais.

Como estava com pressa, vestiu o casaco de pele sobre o corpo nu. Chamou um táxi, e dez minutos depois, já estava na porta do prédio do sujeito. Ele era um homem de meia idade, calvo, um pouco acima do peso. Tinha uma barba rala. Fumava um cigarro mentolado. O perfume era Polo. Tudo isso ela observou de relance, enquanto entrava no apartamento. Era uma cobertura de frente para o Central Park. Sem dizer uma só palavra, ela começou a fazer o seu trabalho. Ele havia dito que não queria conversa. Nem ‘boa noite’, nem nada. Ela obedeceu. Meia hora depois ele já estava satisfeito. Pagou, deu uma gorda gorjeta, vestiu-se e se dirigiu à porta. Pediu que ela saísse pela área de serviço. Assim dava menos na vista. Ela sorriu, contou duas vezes o dinheiro, agradeceu a gorjeta com um beijo na testa, penteou os cabelos, retocou a maquiagem, e saiu. No elevador, passou batom, ajeitou os cílios postiços que estavam tortos, acendeu um Benson & Hedges; a porta abriu, ela atravessou o hall de entrada, deu uma piscadinha para o porteiro, fez sinal para um táxi e sumiu.  



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