JORGE DA CAPADÓCIA
Em um reino distante chamado Brasil vivia um mendigo. O homem, que aparentava não ter mais que trinta anos, ficava parado em uma esquina pedindo esmola. Passava os dias ali, com as mãos espalmadas, esperando cair uma moeda. Alguns bons espíritos depositavam em sua canequinha algum dinheiro. Não era o suficiente para o mendigo viver. Mas de um jeito ou de outro, através da bondade alheia, sobrevivia. Era uma vida ruim. O homem via o mundo de baixo para cima. Era como se o fato de ficar sentado ali, no meio da rua, lhe obrigasse a sentir-se menor. Tudo era grande: adulto, criança, cachorro, carrinho de bebê. E ele observava, esperando as tais moedas milagrosas. Não pedia esmola porque queria. Pedia porque precisava. Desde os cinco anos de idade encontrava-se naquela condição miserável. Fora acometido por uma paralisia infantil, que lhe tirara o movimento das pernas, e lhe deixara de herança uma dificuldade na fala. Sentia-se um estorvo humano. A vida de pedinte é dura. Mas ele aguentava em silêncio. Muito poucos o viam como um cidadão. Em raríssimos momentos fora amado como um filho de Deus. Passava uma má impressão. Quem olhava para ele via-o com o incômodo olhar de quem não quer ver. Enxergar a miséria alheia é menos doloroso do que enxergar a própria miséria: mesmo assim dói. E de dor em dor, de sopapo em sopapo, de solavanco em solavanco, o mendigo permanecia ali: intacto.
Certa feita, passou um jovem por lá. Ver aquele mendigo parado naquela esquina o incomodou tanto, que ele decidiu fazer alguma coisa. Mas desta vez o incômodo veio acompanhado da necessidade de ajudar. O jovem queria provar a si mesmo que era capaz de fazer alguma coisa por aquele homem. Tirou-o da rua. Deu-lhe um teto. Levou-o ao médico. Com a ajuda de amigos comprou-lhe uma cadeira de rodas. Depois umas muletas. E com o tratamento, após meses de fisioterapia, o ex mendigo pôs-se a andar. Animado, o jovem colocou-o para estudar. Dois anos depois, graças a um curso supletivo, o homem já estava na universidade.
Assim que começou a cursar jornalismo, já conseguiu um estágio em um grande jornal. Escrevia bem. Todos gostavam de suas crônicas. Sua coluna virou um sucesso. Repentinamente a voz voltou. A fonoaudióloga não soube explicar o milagre. Contudo, ele estava falando, e era isso que importava. Depois de formado, acabou âncora do principal telejornal daquele país. Casou-se, teve dois filhos, e adotou mais dois. O jovem que lhe ajudara naqueles anos de sofrimento havia desaparecido. Nunca soube aonde fora parar. Anos depois ao entrar em uma igreja daquele reino distante chamado Brasil, é que ao olhar para o altar, viu que aquele jovem tinha a face de São Jorge. “É ele, sim” – pensou. “Foi São Jorge quem me ajudou”. Ao olhar mais uma vez para o santo, eis que o santo, seu amigo, para ele piscou. E a história acabou.
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