COMO SER UM GRANDE ESCRITOR





O que escrevo é para ser lido em voz alta. Porque o som da palavra me interessa tanto quanto a própria palavra. Para tal, proponho o diálogo, a troca, o escambo. O vocábulo nu e cru é o que me interessa. O texto está em mim, mas não fala de mim. Apenas passa por mim. Sou o fio condutor. O telefone com o qual o personagem se comunica. E o telefone toca de lá para cá: quando ele liga, eu atendo. O personagem não é uma invenção. Ele existe independente de mim. O que eu faço, se é que eu faço alguma coisa, é pegar as suas ideias no ar. Aí eu permito que ele chegue perto de mim, sussurre alguma coisa no meu ouvido, penetre em minha mente, e se apresente. É quase uma incorporação. Só não é, porque não saio de mim um só instante. Fico ali: observando. Se a ideia é boa, eu aproveito. Se é ruim, deito fora. Quanto mais o personagem se aproxima de mim, mais distante estou. Nada do que escrevo é autobiográfico. Nem quando falo na primeira pessoa. 

Escrever é um exercício de comunicação. É a busca do autoconhecimento. Contudo, acredito que só conhece a si mesmo, aquele que é capaz de observar o outro. Mas para isso é preciso olhar de verdade. É necessário ultrapassar a casca e apalpar a carne. É desnudar-se de si mesmo e experimentar a alma do mundo. Somos todos iguais, dentro e fora de nós mesmos. O que nos une não é a dor, mas a certeza que um dia ela vai passar. Tudo passa. O grande e o pequeno. O rico e o pobre. O negro e o branco. O ganhador e o perdedor. O único que não passa é o amor. O amor é o que move o mundo. É o que faz as virtudes teologais terem algum sentido. Se fé, esperança e caridade nos levam ao Espírito da Verdade, então quando nos aproximamos do nosso semelhante, aproximamo-nos de nós mesmos; aproximamo-nos de Deus. Busco o óbvio, o comum, o que todo mundo enxerga, mas ninguém vê. Por isso repito expressões, frases, elocuções, em quase todos os textos. Isso me aproxima do leitor, deixando que ele me toque, sem minh’alma profanar. O que escrevo só tem um único propósito: pensar uma sociedade melhor. Porque em nenhum momento da História da Humanidade, seja materialista ou espiritista, ninguém duvida que o melhor caminho, é aquele que tem a paz como estrada.   

Escrevendo descobri que somos todos extraterrestres. Viemos de algum lugar e é para lá que iremos voltar. Alguns acham que viemos das estrelas. Outros que moramos para lá das nebulosas. E eu, que só compreendo de Deus um terço do sistema solar, deixo para os estudiosos outras considerações. Escrevo para ficar perto do Criador. Escrevo para falar de amor. O resto, o que emoldura as entrelinhas, é só para encher linguiça. Porque o mundo vai e volta, mas acaba dando no amor.

Agora esqueça tudo que eu disse. Desconsidere-me. Leia e tire as suas próprias conclusões. O que eu penso pouco importa. A proposta é o diálogo, esqueceu? O leitor é o que me interessa. O personagem é o que nos une. Em mim, não há nada de meu, que não seja a minha alegria e a minha dor.

Eu sou uma máquina de escrever.


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