AS PEDRAS DA MINHA RUA
Nos arredores de
Teotihuacan:
Acabo de me dar conta
de como é frágil a condição humana. Hoje se está aqui, e amanhã, só Deus sabe.
Eu tento abrir mão das minhas perdas. Não ficar contando fracassos como um
acumulador de cousas. Mas em uma hora como essa, onde sinto-me quebradiço, confesso
que não é fácil ser quem sou. Ando me sentindo frágil ultimamente, sabe. É como
se o peso do mundo fosse um fardo em minhas costas. Sinto-me com o volume de um
pesa-papéis. E antes que eles voem (os papéis), — tenho o anseio de convencer-me que sou um aperta-papéis gigante.
Ledo engano. Sou menor que o meu reflexo no espelho. Logo, faço força
inutilmente, já que nem eu mesmo me aguento. Que dirá suster a força do vento…
Perdão. Sou um sino na aragem. A sombra de outrem. Metade da metade de mim. Sou
humano demais. Lamento.
O tempo também me
incomoda. Venho envelhecendo a passos largos, e por mais que eu corra, não
consigo me alcançar. Tenho vivido no sufoco, entende. Estou anos luz de mim
mesmo, e nem por isso consigo me atingir. Venho caindo como uma pedra.
Vertiginosamente até auferir o lago. E quando bato no fundo, percebo que é na
superfície que eu gostaria de estar. Ando meio solitário. Digo, meio, para não
dizer inteiro. Meu todo não representa meu conjunto. Pois minha generalidade é
periférica. Então lanço-me às cercanias da vida à espera de um milagre, um
convite para sair: um almoço, um jantar. Dia desse achei que estava apaixonado.
Confundi-me. Graças a Deus, não estava. Paixão dá muito trabalho, dá olheira, e
eu detesto papos. O que gostaria que me acontecesse neste instante é que o amor
entrasse por aquela porta e me dissesse ao ouvido algo que eu jamais tivesse
ouvido. Ou seria, escutado? Tanto faz… Gostaria que o amor me descrevesse a
Obra de Karl Marx, me explicasse como foi construída a Pirâmide do Sol, fizesse
um apanhado da arquitetura de Oscar Niemeyer, e depois me ciciasse: eu te amo.
Sim, o amor devia vir me mussitar. Ando tanto tempo em busca desse “eu te amo”
perdido, que já me esqueci como é bom ser amado. Tenho vivido o amor de filme:
o amor cinematográfico. Entretanto, esse é o amor de Jean-Luc Godard. E não o
meu. Desde que li “Confissões”, de Santo Agostinho, não me contento com pouco.
Busco o amor imutável de Deus, e sei que como o tempo de Deus é outro, não
adianta arquejo, estertor, vasca, inquietude, desassossego, impaciência,
angústia, agonia, aflição. O amor virá quando vier… Chegará quando chegar. Na
ocasião em que eu estiver distraído. Plugado em ti. Abstraído de mim.
A minha condição
humana sabe mais de mim do que eu sei. Aliás, de mim sei muito pouco. De mim,
hipóteses. Suposições. Desconfio que sou bonito. Cismo que sou amado. Conjeturo
que em algum canto do universo haja um ser inteligente. Estimo que quando
encontre-o possa agir com naturalidade. Suspeito que há sabedoria em mim.
Todavia, não é insuspeição de quem pensa que sabe tudo. É certeza de quem sabe
que nada sabe.
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