CAIS
Ninguém morre, de fato, quando é amado:
Hoje acordei
pensando em como a vida é curta. Esta semana, com a morte de Eduardo Campos,
todos nós fomos obrigados a excogitar a brevidade da vida. Quando um homem
público morre, nós que somos simples mortais, acabamos entrando em contato com
a nossa própria finitude. Além de tudo Eduardo era jovem. E como é difícil
entender que os jovens também arrefecem. Um político com um futuro brilhante,
independente de ser o estadista predileto ou não, é sempre a esperança de um
destino menos aborrecido para todos nós. Ainda mais em uma nação que vive
esquecendo-se do passado, olhar para frente é uma das muitas saídas para
conjeturar o presente. E o presente é de luto. Mas também de sede de viver.
Hoje acordei
com a certeza de que você morre e eu morro. Porém, acordei sabendo que a
eternidade faz parte de todos e de cada um. Acordei entendendo que muita coisa não
irei realizar em minha vida, nem se viver duzentos anos. Isso se dá porque nem
tudo é possível. E eu que estou acostumado a conviver com o impossível, sei o quanto é impraticável,
improvável e inexequível definir o inverossímil, e porque não dizer inviável, irreal e irrealizável utópico entardecer, da efemeridade humana.
Hoje acordei
querendo perdoar e ser perdoado. Acordei com vontade de ter meu nome escrito na
Calçada da Fama. Acordei com desejo de ler Carlos Drummond de Andrade, e dizer
alguma poesia no meio do caminho:
“No meio do
caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho. Tinha uma pedra.
No meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me
esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei
que no meio do caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho. No
meio do caminho tinha uma pedra”.
Hoje acordei.
E isso é uma dádiva. Portanto, vem me ver. Quero dizer o quanto te
amo, pedir perdão pelos meus enganos e desenganos, deitar em teu colo e te
fazer mil carinhos. Vem, sim. Juro que fico quietinho, deito de ladinho, e
falo bem baixinho: maravilhas de ti e de mim. Eu ando apaixonado pela vida,
entende. Vem, me surpreende. Sei que tu irás gostar.
Ninguém
morre, de infarto, quando é amado.
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