Q.U.E.E.N.
Nas águas de Pero Vaz de Caminha:
Hoje
acordei com uma surpresa. Como moro em um apartamento pequeno, onde quase não
há espaço, coloquei o vaso de planta que ganhei de uma amiga, em cima da
máquina de lavar. O vaso é pequeno. Há nele gerberas amarelas e vermelhas. E
justamente neste vaso, sei lá porquê, nasceu um pezinho de laranja. Isso mesmo.
Eu, por descuido, devo ter deixado lá cair uma semente, e a natureza sabida
que é, germinou-a. E eis que um pouco depois de acordar, enquanto tirava
algumas roupas do varal, encontrei a laranjeira a brotar diligentemente. Até
minha gerbera-do-transvaal ficou espaventada com a apressurada eclosão de nossa
hóspede. Hóspede sim, porque não posso ter uma laranjeira plantada em um vaso
de plástico, disposto em uma máquina de lavar. Uma pena. Se eu morasse em uma
casa com quintal, teria esfera suficiente para iniciar meu laranjal. Talvez cultivasse
até uma horta!
O
preço de frutas, verdaduras e legumes está pela hora da morte. E ainda tem os
agrotóxicos… Seria um achado ter meu horto caseiro, repleto de produtos
orgânicos. Quiçá um pomar! Entrementes não há superfície para tal. No entanto, o
que fazer com a minha laranjeira? Digo minha, porque ela e eu já nos
afeiçoamos. Ela é minha rainha, e eu, seu rei. Por isso, vê-la ali surgindo
para a vida, foi amor à primeira vista. Entretanto, nosso caso está fadado ao
fracasso, já que em casa não há recinto para uma árvore brotando de um vaso.
Logo, teremos que divorciarmo-nos, precocemente.
Possivelmente a leve para a casa de minha mãe. Lá tem sítio suficiente para uma laranjeira crescer. E é com um nó no peito que toma esta decisão: abrir mão da minha liberdade. Todavia já está estatuído. Vou arrumar as malas, trocar de roupa, embalar o vaso com cuidado, chamar um táxi; — e já que não há outra saída, — mudar-me-ei com minhas plantas para a casa de minha mãe. Preservo a minha independência, sim. Entretanto, sem minha gerbera e minha laranjeira não consigo mais viver. Será um triângulo amoroso, eu sei. Mas isso ninguém precisa saber.
Possivelmente a leve para a casa de minha mãe. Lá tem sítio suficiente para uma laranjeira crescer. E é com um nó no peito que toma esta decisão: abrir mão da minha liberdade. Todavia já está estatuído. Vou arrumar as malas, trocar de roupa, embalar o vaso com cuidado, chamar um táxi; — e já que não há outra saída, — mudar-me-ei com minhas plantas para a casa de minha mãe. Preservo a minha independência, sim. Entretanto, sem minha gerbera e minha laranjeira não consigo mais viver. Será um triângulo amoroso, eu sei. Mas isso ninguém precisa saber.
O Brasil é mesmo um país, que em se plantando, dar-se-á nele
tudo. Até laranjeira em vaso de plástico em cima d’uma máquina de lavar.
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Trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha a El-Rei D. Manuel:
“…Esta
terra, Senhor, me parece que da ponta que mais contra o sul vimos até à outra
ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será
tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas por costa. Tem, ao
longo do mar, nalgumas partes, grandes barreiras, delas vermelhas, delas
brancas; e a terra por cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De
ponta a ponta, é toda praia parma, muito chã e muito formosa.
Pelo
sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, não
podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa.
Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados como os de Entre Douro e Minho, porque neste tempo de agora os achávamos como os de lá.
Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados como os de Entre Douro e Minho, porque neste tempo de agora os achávamos como os de lá.
Águas
são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar,
dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. Porém o melhor fruto, que nela
se pode fazer, me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a
principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar…”.
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A Carta
de Pero Vaz de Caminha:
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