SHE
Ele é gay. E
por não saber de si outra coisa, vive com a naturalidade de quem sorri,
enquanto está com dor de dente. Sim, é este o sentimento. A sua condição sexual
dá-lhe um não sei o quê na gengiva, e esta de tanto incomodar, uma hora
arrebenta. É como o acossar do canino nascendo. É como o incisivo lateral
que vai mal. É a língua passando pela parte interna da bochecha, justamente em
cima do terceiro molar, cujo nervo é exposto.
Desde
pequeno sempre quis ser mulher. Não porque é gay, mas porque sente-se fêmea.
Aliás, mais do que isso. Pensa-se moça. Se o indivíduo é o que acredita ser,
então ele é: mulher. Seria ele uma dama pelo simples fato de conceituar-se destarte? É de se dar crédito a, porquanto mulher não é estribilho, é refrão, mulher não é humor, é compleição. Por isso o fato de ser gay para ele é apenas um
rótulo. Algo que acolhe com o intuito de ser aceito. Ou melhor, como escopo
para adaptar-se ao mundo. Uma vez que nem gay ele acha que é. E sim, mulher. Uma mulher
que nasceu em um corpo de homem. O lado feminino da anatomia do macho. Por conseguinte,
viver para ele é bullying. Bullying, sim. Porque ele que já foi chamado de
‘bicha’ e de ‘viado’, — nunca se viu de um jeito assim: pejorativo.
Logo, era preciso mudar. Decidido, aumentou o tamanho dos glúteos, criou seios
e curvas, mexeu na formato do rosto, deixou o cabelo crescer, e quando a imagem
no espelho tornou-se condizendo com o que ele é por dentro, resolveu fazer a
tão sonhada cirurgia de
mudança de sexo. Alterou tanto o que é por fora, que ao ver-se refletido aqui e ali, não
se reconhece. É um novo homem. Um homem no corpo d’uma mulher. E não é a
ausência do pênis que o faz sentir-se dessarte. Pois hoje ele é o que sempre
foi. A diferença é que agora o mundo pode ver que o rei
está nu.
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