Symphony No. 2 in D Major Op. 43
A terra dos mil lagos:
Talvez a vida seja um mendigo sentado à porta de uma igreja,
esperando que alguém lhe dê uma doação. Que pode vir através de uma esmola ou
de um pouco de atenção. Talvez a vida seja um pedido de perdão. Porque não há
quem viva nesse mundo que nunca tenha errado. Eu mesmo escorrego o tempo todo.
Claudico, confundo, desacerto, equivoco, falho, peco, perco. Por isso agora
peço-lhe desculpas. Absolvição por historiar demais. Tenho conversado comigo, e
algo em mim me diz, que não é necessário escrever tanto. Portanto preciso de
sua graça, de seu indulto, de sua remissão. Peço perdão por uma série de
outras coisas. Tenho eu aqui uma lista enorme: o cadastro dos meus erros. Mas
deixe-mo-los de lado. São tantos, que se flanqueá-los um a um, a Via Láctea será
escassa para enumerá-los. Voltemos à vida e ao mendigo.
Quando digo que talvez a vida seja um mendigo sentado à porta
de uma igreja, penso na Finlândia. Isso mesmo. Um mendigo perdido pelas ruas de
Helsinque. Um homem, que em meio à aproximadamente quinhentos e sessenta mil
habitantes, sente-se só. Deserto de si mesmo. Ermo como um terreno baldio. Um
ser movido pelo afastamento, que também é encolhimento, isolamento, retiro,
retraimento, contração, retração, acanhamento, reserva, timidez: solidão. Um homem sofrendo de fobia social. Um ser humano em
pânico. Ou melhor: horrorizado, apavorado, preocupado, assustado, temeroso, aterrorizado. Contudo
sofre não por covardia, fraqueza, frouxidão, poltroneria, pusilanimidade. Sofre
por respeito. Padece por receio. Respeito à humanidade, talvez. Receio por amá-la
demais. Em meio ao socialismo que deu certo, cercado por construções modernas e
medievais; o homem, que por dentro está nu, pede socorro. Adminículo este, que se fosse óbvio, seria donativo. Adjutório, que se fosse incerteza, seria: coça, sova, surra. Todavia pode
ser dádiva ou doação ou donativo ou oferta: óbulo. Sim, a vida é um mendigo
sentado à porta da Catedral de Helsinque.
Contudo, se a igreja é em Helsinque, na Costa do Golfo da
Finlândia não há pobre. Então, o que um esmolador estaria fazendo ali? O país é
socialista, já dissemos. Há quem viva em Helsinque e seja católico: embora constitua-se luterano; protestante. No entanto, não importa. Lá somos todos iguais. Digo; somos, porque seríamos se
lá estivéssemos. Logo, o que um esmoleiro, esmoler, indigente, lazarone,
mendicante, necessitado, pedidor, pedinte, pobre, sacomano, sacomardo,
sacomão, faz à porta da igreja? Não sei. Ou talvez saiba… só não queira dizer. Pois não quero. Se na Finlândia, — a terra dos mil
lagos; pobreza é coisa do passado, — então esse homem braceja com algo que o
dinheiro não pode comprar. Quiçá seja uma fatia de carinho… Eventualmente meio quilo de abraço… Porventura um beijo de cinema… Possivelmente um bocado de solicitude… quem sabe.
Mas,
sinceramente, como acontece na Finlândia, na vida ninguém é desfavorecido.
Todos temos a nossa cota de honorabilidade. A vida nos vê como reis: ou rainhas. A vida nos entende. A vida é boa com a gente. A vida nos dá aquilo que
precisamos. A vida é sábia: ela sabe dizer ‘não’. Então, se a vida não nos vê
como mendigos, e na Finlândia não há pobre, aquele que pede esmola à porta da igreja é um Ser de Luz; que está ali para lembrar-nos, que mesmo que
tenhamos tudo que o dinheiro pode comprar, ainda necessitamos de tudo que o dinheiro não compra. E isso eu não careço enumerar, como não o fiz
com meus pecados, porque todo mundo sabe o que é.
Talvez
a vida seja um vinil do Nightwish… Acaso seja uma composição de Jean
Sibelius… Provavelmente. Para mim a vida é Temppeliaukio kirkko.
A
vida tem parede de pedra e teto de cobre.
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CARLOS ALBERTO PEREIRA DOS SANTOS:
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