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Memória eidética:
Ela sentia-se desconfortável em si mesma. Parecia que naquele corpo morava mais alguém além dela. Ela era um molusco gastrópode, pulmonado, da família dos limacídeos. Era uma concha. Uma espiral. Uma lesma. Era uma curva aberta que descreve várias voltas em torno de um centro. Quando perguntada por que vivia com os olhos vermelhos; com lágrimas, respondia: “Eu chorei cântaros no silêncio do meu quarto e rios debaixo do chuveiro. Por isso trago os olhos vermelhos. Talvez um dia eu acorde e não me lembre mais do que perdi. Mas de quem eu sou. Aí paro de chorar. Mas até lá, lágrimas invadirão meus olhos, como pétalas de rosa jogadas no deserto em noite de lua cheia. Choro porque para mim tem sido muito difícil viver… O que fazer quando a pessoa que você mais ama não ama você? Talvez até ame… Mas ama pouco. Não como deveria… Amar não é como ir comprar pão na padaria… Amar é mais denso… tem cheiro de incenso. Por isso, choro. Porque quando o meu desejo, e o do outro, não é o mesmo: acabo nos braços da solidão. Amar não é como ir a um fast-food comer porcaria. Amar tem gosto de poesia. Eu sou o avatar do meu avatar. Porque não sou muito boa na vida real… Da realidade, só conheço os ‘nãos’ que a vida vida me deu… Até as minhas chegadas tem um quê de despedida. O que tenho a dizer sobre o amor? Nada. Eu não o teria deixado, se ele não me tivesse deixado primeiro”.
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